Elas sofrem com uma dura constatação: investem mais no relacionamento do que eles, sentem que o amor depositado não tem um retorno a contento, temem que são traídas ou que estão prestes a ser abandonadas. Pior: acham que nunca conseguirão viver sem seus parceiros, toda sua identidade, autoestima e futuro dependente do afeto e da atenção que especificam deles.
O diagnóstico da síndrome do “amar demais” ganhou como livrarias na metade dos anos 1980 com “Mulheres que Amam Demais” , lançado pela terapeuta conjugal e conselheira pedagógica Robin Norwood. A norte-americana especializou-se no tratamento de padrões mórbidos de relacionamento amoroso e no tratamento de viciados em álcool e drogas.
Em 1985, “Mulheres que Amam Demais” começou a virar o livro de cabeceira de muitas vítimas do comportamento afetivo obsessivo.
São 11 capítulos que tentam dar um “choque” sobre os prejuízos de um relacionamento em que o outro é sufocado, monitorado, obtenção, alvo de ciúmes doentios, expectativas exageradas: “Amar o homem que não corresponde a esse amor”, “Bom relacionamento sexual em relações ruínas “,” Se eu sofrer por você, você me ama? “,” A necessidade de ser necessária “,” Vamos dançar? “,” Homens que escolhem mulheres que amam demais “,” A Bela e a Fera “, “Quando um vício alimenta o outro”, “Morrer por amor”, “O Caminho da Recuperação” e “Recuperação e intimidade: diminuindo a distância”.
Uma das hipóteses neste clássico da leitura feminina é a tendência de algumas mulheres tentarem “salvar” seus parceiros com uma boa noite de sexo, principalmente depois de uma discussão ou briga chata.
“As mulheres que amam demais frequentemente encaram o dilema de bom relacionamento sexual em relações infelizes e sem esperança. Fomos ensinadas que ‘bom’ relacionamento sexual significa amor ‘de verdade, e que, contrariamente, o sexo não poderia ser realmente satisfatório e realizador se o relacionamento não fosse, como um todo, correto para nós “, diz Robin na página 56.
As seguintes características são típicas de mulheres que amam demais:
1. Você vem de um lar desajustado em que suas necessidades emocionais não foram satisfeitas.
2.Como não recebeu um mínimo de atenção, você tenta suprir essa necessidade insatisfeita através de outra pessoa, tornando-se superatenciosa, principalmente com homens aparentemente carentes.
3.Como não pôde transformar seus pais nas pessoas atenciosas, amáveis e afetuosas de que precisava, você reage fortemente ao tipo de homem familiar mas inacessível, o qual você tenta, mais uma vez, transformar através de seu amor.
4.Com medo de ser abandonada, você faz qualquer coisa para impedir o fim do relacionamento.
5.Quase nada é problema, toma muito tempo ou mesmo custa demais, se for para “ajudar” o homem com quem está envolvida.
6.Habituada à falta de amor em relacionamentos pessoais, você está disposta a ter paciência, esperança, tentando agradar cada vez mais.
7.Você está disposta a arcar com mais de 50 por cento da responsabilidade, da culpa e das falhas em qualquer relacionamento.
8.Sua autoestima está criticamente baixa, e no fundo você não acredita que mereça ser feliz. Ao contrário, acredita que deve conquistar o direito de desfrutar da vida.
9.Como experimentou pouca segurança na infância, você tem uma necessidade desesperadora de controlar seus homens e seus relacionamentos. Você mascara seus esforços para controlar pessoas e situações, mostrando-se “prestativa”.
10.Você está muito mais em contato com o sonho de como o relacionamento poderia ser que com a realidade da situação.
11.Você tende psicologicamente e, com freqüência, bioquimicamente a se tornar dependente de drogas, álcool e/ou certos tipos de alimento, principalmente doces.
12.Ao ser atraída por pessoas com problemas que precisam de solução, ou ao se envolver em situações caóticas, incertas e dolorosas emocionalmente, você evita concentrar a responsabilidade em si própria.
13.Você não tem atração por homens gentis, estáveis, seguros e que estão interessados em você. Acha que esses homens “agradáveis” são enfadonhos.
JACÓ, RAQUEL E LIA
Leia Gênesis 29.
Existe uma história na Bíblia que ilustra como a busca pelo amor pode se transformar em um tipo de escravidão. É a história de Jacó e Lia em Gênesis 29, que, apesar de muito antiga, nunca foi tão relevante quanto nos dias de hoje. Sempre foi possível transformar o amor romântico e o casamento em um falso deus, mas vivemos em uma cultura que torna cada vez mais fácil confundir o amor com Deus, ser arrastado por ele e colocar nele todas as esperanças de felicidade […].
Nenhuma pessoa, nem a melhor de todas, pode dar tudo aquilo de que a alma precisa. Você pensará que foi para a cama com Raquel, mas quando acordar será sempre Lia. Essa desilusão e desapontamento cósmicos estão sempre presentes em todos os aspectos da vida, mas nós experimentamos esses sentimentos principalmente em relação ao que mais esperamos.
Quando você finalmente perceber isto, existem quatro resoluções que pode tomar. Pode culpar as coisas que estão desapontando e mudar para outras melhores. Este é o caminho da idolatria continuada e do vício espiritual. A segunda é se culpar, se estapear e dizer: “De alguma forma, fui um fracasso. Vejo a felicidade de todos os outros. Não sei porque não sou feliz. Há algo errado comigo.” Esse é o caminho do autodesprezo e da vergonha. A terceira coisa é culpar o mundo. Você pode dizer “Maldito seja o sexo oposto”, e se tornar cínico, duro e vazio. Finalmente, como C.S. Lewis afirma […] você pode reorientar todo o foco de sua vida para Deus. Ele conclui: “Se encontro em mim um desejo que nenhuma experiência deste mundo pode satisfazer, a explicação mais provável é que fui feito para outro mundo [algo sobrenatural e eterno].”
O fracasso do amor romântico como solução dos problemas humanos é parte da frustração do homem moderno. […] Nenhum relacionamento humano pode suportar o peso do endeusamento. […] Por mais idealizado e idolatrado que seja [o parceiro], ele inevitavelmente mostra imperfeições e fraquezas. No final das contas, o que é que queremos quando elevamos o nosso parceiro a essa posição? Queremos nos livrar das nossas culpas, nossa sensação de vazio. Queremos ser justificados, saber que nossa existência não é em vão. Queremos redenção – nada menos que isso. Não é preciso dizer que parceiros humanos não podem nos redimir.
Com relação ao amor romântico, tanto a idolatria estereotipada do homem quanto a da mulher são becos sem saída. Muitas vezes se diz que “o homem usa o amor para conseguir sexo e a mulher usa o sexo para conseguir amor”. Há alguma verdade nisso, como em todos os estereótipos, mas a história mostra que ambos os falsos deuses desapontam. Porque procurou dar valor à sua vida tendo uma mulher fisicamente bonita, Jacó entregou o coração a uma mulher cujas falhas e imaturidade não conseguia ver. O falso deus de Lia não era o sexo. Ela obviamente tinha acesso ao corpo do marido, mas não ao seu coração e compromisso. Ela o queria “ligado” a ela, queria ter seu coração apegado a ela. Mas isso não aconteceu. A vida dela ficou confinada a frivolidades e misérias.
[…] Lia é a única pessoa nessa triste história a fazer algum tipo de progresso espiritual, embora isso aconteça apenas perto do fim. Primeiro olhe para o que Deus faz nela. Uma das coisas que estudiosos notam é que, em todas as suas declarações, Lia invocou o Senhor. Ela usou o nome Jeová […] Assim, embora estivesse em luta e confusa, ela pôde se achegar a um Deus pessoal e gracioso.
Depois de anos engravidando, no entanto, houve uma importante descoberta. Quando deu à luz seu quarto filho, Judá, ela disse: “Desta vez louvarei o Senhor.” Havia um desafio nessa afirmação. Era uma declaração diferente das que ela havia feito depois dos partos anteriores. Não havia menção ao filho ou ao marido. Parece que ela finalmente havia desviado seus desejos mais profundos do marido e dos filhos, direcionando-os para o Senhor. Jacó e Labão haviam roubado a vida de Lia, mas ela a recebeu de volta quando finalmente entregou seu coração ao Senhor.
Não devemos olhar apenas para o que Deus fez nela. Temos de olhar também para o que Deus fez por ela. Lia deve ter sentido que havia algo de especial nesse último filho. Ela deve ter tido a intuição de que Deus fizera algo por ela. E de fato fizera […] O filho era Judá, e em Gênesis 49 nos é dito que é por meio dele que o verdadeiro Rei, o Messias, virá um dia. Deus veio à garota que ninguém queria, a mal amada, e fez dela a mãe ancestral de Jesus. […] O texto diz que, quando o Senhor viu que Lia não era amada, ele a amou. É como se Deus declarasse: “Eu sou o verdadeiro noivo, o marido das sem marido, o pai dos órfãos”. Esse é o Deus que salva pela graça.
[…] aqui está a força para superarmos as idolatrias. Existem muitas pessoas no mundo que não encontraram pares românticos, e elas precisam ouvir o Senhor dizer: “Eu sou o verdadeiro Noivo. Há apenas um par de braços que pode dar tudo o que o seu coração deseja e espera por você no final dos tempos, se você se voltar para mim e souber que eu amo você agora”. No entanto, não apenas os que não têm cônjuge precisam ver que Deus é seu principal cônjuge, mas também aqueles que os têm. Eles precisam disso para salvar seus casamentos do peso esmagador de suas expectativas divinas. Se você se casa com uma pessoa esperando que ela seja um deus, o desapontamento é inevitável. Não é que você deva amar menos seu parceiro [ou que você não deva ansiar por um], mas sim que você deve conhecer e amar mais a Deus. Como podemos conhecer o amor de Deus de forma profunda a ponto de libertar nossos cônjuges de nossas expectativas sufocantes? Voltando-nos àquele para quem a vida de Lia aponta […] Jesus Cristo.
Ps.: Em nossa cultura moderna, vem havendo uma tendência de libertar as mulheres do ideal de casamento e filhos, mas vale destacar que o ponto que o autor pretende neste capítulo não é incentivar as mulheres (como a cultura moderna faz) a abandonarem a ideia de casar e ter filhos. Afinal, não é ruim desejar isso, o ponto em questão é quando esse desejo se torna o sentido da vida, um ídolo. Para as solteiras o ídolo pode ser o casamento, a ideia de que enquanto não encontrar alguém a vida não terá sentido pleno. Depois de casadas o ídolo pode se tornar o amor do marido, os filhos, o lar. Para alguns o ídolo é o amor, para outros o trabalho, a carreira, a formação acadêmica, o dinheiro. O autor aborda várias áreas que podem se tornar ídolos em nossas vidas. Por isso, é importante que, sejam quais forem os ídolos, eles precisam ser descobertos o quanto antes.
O fato é que, enquanto não nos rendermos ao senhorio de Cristo, a nossa vida será uma constante busca para preencher o vazio que só o Senhor pode preencher. Ainda que tenhamos tudo, nada nunca nos satisfará por completo.
Somente quando nos deleitamos no Senhor nossos anseios são realizados. Sem nos esquecer de que, como disse Lewis, que a satisfação plena da nossa alma só será suprida na eternidade, pois fomos projetados para ela e até que nos encontremos lá, sempre sentiremos que por melhores que sejam as coisas deste mundo, há algo muito mais sublime que Deus ainda não nos revelou, algo que só provaremos quando tivermos nossos corpos glorificados. (Timothy Keller)
“Mulheres Que Amam Demais: Quando Você Continua a Desejar e Esperar que Ele Mude”
Autor : Robin Norwood
Editora : Rocco
Páginas : 320
Quanto : R$ 21,90
Onde comprar : https://amzn.to/3GvOqpN
Fontes:
teologiaparamulheres.wordpress.com
Deuses Falsos – Timothy Keller
Mulheres que Amam Demais – Robin Norwood