Uma surpreendente obra de Deus | Kevin DeYoung

Revival-1Existem apenas algumas coisas que permanecem semanalmente na minha lista de oração. Uma delas é o avivamento ou reavivamento. Eu acredito que Deus tenha se movido no passado para inflamar grandes avivamentos. Eu acredito que ele pode fazê-lo novamente. E eu acredito que seria bom que os cristãos pregassem e orassem por um avivamento cristocêntrico em nossos dias, que ame o Evangelho, glorifique a Deus e seja dado pelo Espírito.

Claro, isso levanta a questão: o que é verdadeiro avivamento? Vou chegar a uma definição em um momento e falarei mais sobre o modelo bíblico de renovação e reforma no próximo texto, mas permita-me começar mostrando algumas noções falsas sobre avivamento.

Primeiro, avivamento não é reavivalismo. Obviamente, quando você adiciona o “ismo” isso soa assustador, mas eu acho que há uma distinção importante a defender. Entendo por reavivalismo um evento programado, produzido e determinado por homens. No início do século XIX, uma mudança profunda aconteceu. Considerando que antes avivamentos eram vistos como obras da soberania de Deus pelo que alguém orava e jejuava mas não conseguia planejar, a partir de 1800 os avivamentos tornaram-se produções programadas. Você poderia montar uma barraca e anunciar um avivamento na próxima quinta-feira. Se você colocar uma música nova aqui, um coral lá, um certo estilo de pregação, um banco para os pecadores arrependidos, você pode ter certeza de uma resposta. Isso é um avivamento feito por homens, não verdadeiro avivamento.

Segundo, avivamento não é individualismo. Com isso quero dizer que um avivamento é um evento corporativo. É uma coisa maravilhosa quando Deus muda um só coração, especialmente no meio de muitos ossos secos, mas não é disso que estamos falando. Quando Deus envia um avivamento, ele varre uma igreja inteira, várias igrejas ou comunidades, e toca uma diversidade de pessoas (por exemplo, jovens, velhos, ricos, pobres, educados, incultos). Não é apenas uma transformação individual, de tão maravilhoso que é.

Terceiro, avivamento não é emocionalismo. De fato, verdadeiro avivamento pode produzir grande emoção. Mas a emoção em si não indica uma verdadeira obra do Espírito. Você pode levantar as mãos, ou ficar duro, chorar histericamente, ou ter uma grande calma, cair no chão, saltar para cima e para baixo, gritar Amém, fazer orações altas ou suaves, se sentir muito espiritual ou se sentir muito insignificante. Estes são o que Jonathan Edwards chama de “não-sinais”. Eles não dizem nada de um jeito ou de outro. Se você levanta as mãos ao cantar uma canção de louvor, isso pode significar que você está encantado com o amor de Deus, ou pode significar que você tem uma personalidade expressiva e a música proporciona uma liberação de energia. Se você canta um hino com solenidade e gravidade, pode ser que você está cantando com profundo temor e reverência, ou pode significar que a sua religião é mero formalismo e você está realmente entediado. Verdadeiro avivamento é marcado por mais do que a presença ou ausência de emoção tremenda.

Quarto, avivamento não é idealismo. Avivamento não significa que o céu chega na terra. Ele não inaugura uma utopia espiritual. Não resolve todos os problemas da igreja. Na verdade, o avivamento, com todas as suas bênçãos, geralmente traz novos problemas. Muitas vezes existe controvérsia. Pode haver orgulho e inveja. Pode haver suspeita. E além dessas obras da carne, Satanás muitas vezes desperta falsos avivamentos. Ele semeia sementes de confusão e engano. Assim, tanto quanto nós devemos ansiar por avivamento, não devemos esperar que ele seja a cura para todos os problemas da vida, e muito menos um substituto para décadas de tranquilidade, obediência fiel e crescimento.

Então, o que é verdadeiro avivamento? Aqui está a minha definição: O verdadeiro avivamento é uma soberana, repentina e extraordinária obra de Deus pela qual ele salva pecadores e traz vida nova para o seu povo.

  • O verdadeiro avivamento é uma soberana (dependente do tempo de Deus, realizado por Deus , concedido conforme a vontade de Deus)
  • repentina (conversões, crescimento e mudanças acontecem de forma relativamente rápida)
  • extraordinária (incomum, surpreendente)
  • obra de Deus (não nossa)
  • pela qual ele salva pecadores (regeneração levando a fé e arrependimento)
  • e traz vida nova para o seu povo (com afeições, comprometimento e obediência renovados).

Um dos melhores exemplos do verdadeiro avivamento na Bíblia é a história de Josias, em 2 Reis 22-23. A história não é um projeto para ser imitado em todos os aspectos, especialmente porque Josias é rei sobre uma teocracia. Mas a história é instrutiva, na medida em que nos dá uma imagem de uma soberana, rápida e extraordinária obra de Deus.

Vamos ver com o que isso se parece no próximo texto.

Traduzido por Annelise Schulz | Reforma21.org

O Engano do teu Coração | Jonathan Edwards

Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração, prova-me e conhece os meus pensamentos, vê se há em mim algum caminho mau e guia-me pelo caminho eterno (Salmos 139.23,24).

“Nosso problema em reconhecer se há em nós algum caminho mau não é por falta da luz externa. Certamente Deus não falhou em nos dizer clara e abundantemente quais são os maus caminhos. Ele nos deu mandamentos mais do que suficientes que mostram o que deveríamos e o que não deveríamos fazer; e eles estão claramente colocados diante de nós na sua Palavra. Então, nossa dificuldade em conhecer nosso próprio coração não é pelo fato de nos faltarem normas adequadas.

Como é possível as pessoas viverem de maneira que desagradam a Deus – e no entanto parecerem completamente insensíveis a isso e seguirem em frente totalmente esquecidas de seus pecados? ” […]

Ouça a pregação completa, no vídeo abaixo:

Confissão de Pecado! – C. H. Spurgeon – Sermão n° 113

“Meu sermão esta manhã terá sete textos e minha pregação será centrada em apenas duas palavras de cada um, porque os sete textos são todos semelhantes e ocorrem em sete porções diferentes da santa Palavra de Deus. Porém, eu usarei o contexto de todos eles para exemplificar casos diferentes; e peço a vocês que trouxeram suas Bíblias que os acompanhem a medida que forem mencionados.

O tema desta manhã será – CONFISSÃO DE PECADO. Nós sabemos que isto é absolutamente necessário à salvação. A menos que haja uma verdadeira e sincera confissão de nossos pecados a Deus, não temos nenhuma promessa que nós acharemos clemência no sangue do Redentor. “Todo aquele que confessar seus pecados e os abandonar achará misericórdia” . Mas não há nenhuma promessa na Bíblia para o homem que não confessar seus pecados .

Há muitos que fazem uma confissão, e uma confissão diante de Deus, e não recebem nenhuma bênção, porque a confissão deles não tem certas marcas que são requeridas por Deus, que provariam sua genuinidade e sinceridade e que demonstrariam terem sido fruto do trabalho do Espírito Santo.

Meu texto esta manhã consiste em duas palavras: “eu pequei”. E você verá como estas palavras, nos lábios de homens diferentes, indicam sentimentos muito diferentes. Enquanto uma pessoa diz “eu pequei” e recebe perdão, outro diz o mesmo, porém segue seu caminho para se enegrecer com pecados piores que antes e mergulha em profundezas maiores de pecado do que antes ele tinha experimentado.”

 

A Feira das Vaidades

pilgrims-progress-18“Meus filhos, tendes ouvido, na palavra da verdade do Evangelho, que, por muitas tribulações, entramos no reino de Deus, e que em cada cidade nos esperam prisões e perseguições. Deveis, portanto, esperar que no vosso caminho se vos deparem algumas destas coisas. Parte da verdade deste testemunho já vós tendes encontrado, e o restante não se fará esperar, porque, como vedes, estais quase fora deste deserto, em breve chegareis a uma idade onde sereis acometidos pelos inimigos, que se esforçarão por vos matar. Tendes por certo que um de vós, ou ambos, terá de selar o seu testemunho com o próprio sangue. Conservai-vos, porém, fiéis até à morte, e o Rei vos dará a coroa da vida.

O que ali morrer, ainda que a sua morte seja afrontosa e os seus sofrimentos atrozes, terá melhor sorte do que o seu companheiro, não só porque chegará mais depressa à Cidade Celestial, mas porque se livrará de muitas misérias que o outro ainda encontrará no resto da sua jornada. Quando chegardes à cidade que está próxima, e se cumprir o que vos tenho anunciado, lembrai-vos do vosso bom amigo. Portai-vos com valor, e encomendai a Deus as vossas almas (I Pedro 4:19).” (Evangelista)

Vi, então, no meu sonho que, apenas saíram do deserto, avistaram uma povoação chamada Vaidade, na qual se faz uma feira, conhecida pelo mesmo nome, que dura todo o ano.

 É assim chamada porque a cidade em que é celebrada é mais leviana do que a Vaidade, e porque tudo quanto ali se vende, e todos quantos a ela concorrem, são vaidade, pois, como disse o sábio – tudo vaidade (Eclesiastes 12:8; Isaías 13:17). Esta feira é muito antiga. Vou dizer-vos a história do seu princípio:

Há quase cinco mil anos já havia peregrinos que se dirigiam à Cidade Celestial como Cristão e Fiel. Vendo Belzebu, Apolião e legião, com seus companheiros, que pela direção que os peregrinos levavam, lhes era forçoso passar por esta cidade da Vaidade, combinaram entre si estabelecer aqui esta feira, que duraria todo o ano, e onde se venderia toda a espécie de vaidade. Por esta razão encontram-se na feira todas as mercadorias: casas, terras, negócios, empregos, honras, títulos, países, reinos, concupiscências, prazeres; e toda espécie de delícias, tais como, prostitutas, esposas, maridos, filhos, amos, criados, vida, sangue, corpos, alma, prata, ouro, pérolas, pedras preciosas e muitas outras coisas.

Também ali se encontram, constantemente, enganos, jogos, diversões, arlequins, teatros, divertimentos e tratantes de toda a qualidade. E não é só isso. Também ali há, gratuitamente, roubos, mortes, adultérios, perjúrios, falsos testemunhos de toda a classe de gravidade.

Christian and Faithful pass through Vanity Fair, resisting Superstition and Frivolity

 Como noutras feiras de menor importância, há nesta várias ruas e travessias, com nomes apropriados, destinadas todas a certas especialidades. Algumas dessas ruas são designadas pelos nomes de certos países. Assim, a rua de Espanha, de Itália, de França, de Inglaterra, de Alemanha, etc. Do mesmo modo que como em todas as outras feiras. […]

O caminho que conduz à Cidade Celestial passa mesmo pelo meio desta povoação, e aquele que quiser ir à Cidade Celestial, sem passar por aqui terá de sair do mundo (I Coríntios 5:10). Até o Príncipe dos príncipes, quando esteve no mundo, teve de passar por esta povoação antes de chegar ao seu próprio país; também esteve na feira que pertencia a Belzebu, segundo creio, o qual pessoalmente o convidou a comprar as suas vaidades, e não só isto; ainda chegou a oferecer-lhe tudo gratuitamente, se o Príncipe consentisse em fazer-lhe uma reverência ao passar pela povoação. Como era pessoa de alta categoria, levou-o belzebu a outras ruas, e mostrou-lhe todos os reinos do mundo, em um instante, tentando induzi-lo a comprar alguma das suas vaidades; mas não pôde consegui-lo, e o Príncipe saiu da cidade sem haver gasto um centavo (Mateus 4:8-10).

Esta feira é, pois, muito antiga e de muita importância.  Era forçoso que os peregrinos passassem por este sítio, e assim aconteceu, mas logo que sua presença foi notada, toda a gente da povoação se alvoroçou por sua causa. Eis a razão disso:

1.º – As vestes dos peregrinos eram muito diferentes dos que se vendiam na feira, e aquela gente cercava-os por todos os lados para os ver. Uns diziam que os peregrinos eram idiotas, outros que eram loucos, e outros que eram estrangeiros (Jó 12:4; I Coríntios 4:9).  

2.º – E, se muitos se admiravam das seus vestes, não menos se espantavam do seu modo de falar, porque poucos havia que pudessem entendê-los. Eles falavam o idioma de Canaã e a gente da feira falava a linguagem do mundo; de modo que uns aos outros se supunham bárbaros (I Coríntios 2:7-8).

 3.º – Mas o que mais assombrava os mercadores era que estes peregrinos faziam pouco caso das mercadorias, e nem se davam ao incômodo de olhar para elas. E, se alguém os chamava para comprarem, tapavam os ouvidos, e exclamavam: “Aparta os meus olhos para que não vejam a vaidade” (Salmos 119:37). E olhavam para cima, como para darem a entender que os seus negócios estavam no céu (Filipenses 3:20-21).

1-bunyan-pilgrims-progress-grangerUm dos da feira, querendo zombar destes homens, perguntou-lhes com insolência: Que queres comprar? E eles, encarando-o com muita seriedade, responderam: “Compramos a verdade” (Provérbios 23:23).

Esta resposta foi origem de novos desprezos. Uns mofavam deles: outros insultavam-nos, outros escarneciam-nos, e não faltava quem propusesse que fossem espancados. Enfim, as coisas chegaram a tal ponto que houve um grande tumulto na feira, alterando-se a ordem completamente. Chegando-se estes acontecimentos aos ouvidos do principal, acudiu este ao local dos tumultos, e encarregou alguns dos seus amigos mais fiéis de examinar aqueles que tinham dado causa aos distúrbios.

Foram os peregrinos interrogados e os seus juízes perguntaram-lhe donde vinham, para onde iam, e que faziam ali em trajes estranhos. – Somos peregrinos do mundo, responderam eles, e dirigimo-nos para a nossa pátria, que é a Jerusalém Celestial (Hebreus11:13-16). Não demos motivos aos habitantes da cidade, nem aos feirantes, para nos maltratarem desta maneira, nem para impedirem a nossa viagem: apenas respondemos aos que nos convidavam a comprar das suas mercadorias que só queríamos comprar a verdade.

Mas o tribunal declarou que estavam loucos, e que tinham vindo expressamente para perturbar a ordem pública. E por isso os prenderam, deram-lhe muita pancada, atiraram lama sobre eles, e meteram-nos numa gaiola para servirem de espetáculo a toda a gente que havia na feira. Nessa situação permaneceram por algum tempo, sendo o alvo do divertimento, da maldade ou da vingança dos circunstantes.

O geral ria-se de todos os insultos: outros, porém, mais observadores e mais despreocupados, vendo quanto os peregrinos eram pacientes e sofredores, que não retribuíam maldições com maldições, mas com bênçãos, e que respondiam com palavras mansas aos insultos e injúrias que lhes eram dirigidos, começaram a conter a multidão, e a repreendê-la pelos seus inqualificáveis e injustos abusos e desvarios.

Mas, o povo irritado, voltou-se contra estes, dizendo que eram tão bons como os que estavam na gaiola, e, manifestando suspeita de serem seus cúmplices, ameaçaram-nos com iguais castigos. Aqueles que tinham tomado a parte dos prisioneiros responderam, energicamente, que os peregrinos mostravam ser pessoas sérias e pacíficas; que a pessoa alguma faziam mal; e que havia na feira muitos vendedores que mais mereciam estar dentro da gaiola, e até serem postos no pelourinho, em vez daqueles desgraçados de quem tanto tinham abusado.

Assim se foram prolongando as contestações, até que finalmente chegaram as vias de fato, e muitos ficaram feridos. Tornaram então a levar os presos, que se haviam comportado com toda a sabedoria e temperança, à presença dos seus interrogadores, e perante estes os acusaram de haverem provocado o tumulto que tivera lugar. Espancaram-nos brutalmente, puseram-lhes algemas, e assim os passearam por toda a feira, para terror e escarmento dos demais, e para que ninguém tomasse a sua defesa nem com eles se juntasse.

celestialcity Cristão e Fiel portaram-se com grande prudência, e recebiam a vergonha e a ignomínia a que os expunham com paciência e mansidão, de modo que ganharam a simpatia de alguns feirantes, ainda que poucos, relativamente. Esta adesão exasperou, até ao último ponto, a parte contrária, que resolveu matar os peregrinos. Desde logo os ameaçaram de morte, dizendo-lhes que, visto não ser bastante a prisão, seriam condenados à pena última, pelo abuso cometido, e por terem enganado os da feira. Novamente os encerraram na gaiola, prendendo-os a um cepo, enquanto não se decidia definitivamente qual sorte lhes poderia ser destinada.

 Recordaram-se, então, os peregrinos do que lhes dissera Evangelista, e esta recordação veio predispô-los ainda mais para os sofrimentos e robustecer a sua constância. Também se consolavam mutuamente com a ideia de que, o que mais sofresse, melhor sorte havia de ter, pelo que ambos desejavam, no íntimo dos seus corações, ser o preferido, mas entregando-se sempre nas mãos d’Aquele que de tudo dispõe com altíssimo acerto e sabedoria.

Trecho retirado do livro O Peregrino (John Bunyan), de 1678.

Verdadeiras Emoções Espirituais (1) – Jonathan Edwards

I. Emoções espirituais surgem de influências espirituais,sobrenaturais e divinas no coração

O Novo Testamento chama os cristãos de pessoas espirituais, contrapondo-os às pessoas meramente naturais. “Ora, o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são loucura; e não pode entendê-las porque elas se discernem espiritualmente. Porém o homem espiritual julga todas as coisas, mas ele mesmo não é julgado por ninguém” (I Co. 2:14-15). Faz também contraposição entre pessoas espirituais e carnais: “Eu, porém, irmãos, não vos pude falar como a espirituais; e, sim, como a carnais, como a crianças em Cristo”, isto é, aqueles que eram em grande parte não santificados. (I Co. 3:1). Os vocábulos “natural” e “carnal” nesses versículos significam não santificados, sem o Espírito; “espiritual”, então, significa santificado pelo Espírito Santo.

heartAssim como as Escrituras chamam os cristãos de espirituais, encontramo-las também descrevendo certas qualidades e princípios do mesmo modo. Lemos sobre um “pendor espiritual” (Rom. 8:6-7), “compreensão espiritual” (Cl 1:9), e “bênçãos espirituais” (Ef. 1:3).

O termo “espiritual” em todos esses versículos não se refere ao espírito do homem. Uma qualidade não é espiritual somente por existir no espírito do homem, e não no seu corpo. As Escrituras chamam a algumas qualidades “carnais” ou da carne, mesmo que existam no espírito do homem. Por exemplo, Paulo descreve o orgulho, auto-confiança e confiança na própria sabedoria como carnais (Col. 2:18), embora essas qualidades existam no espírito do homem.

O Novo Testamento usa o termo “espiritual” para se referir ao Espírito Santo, a terceira Pessoa da Trindade. Cristãos são espirituais por terem nascido do Espírito de Deus e porque o Espírito vive neles. Coisas são espirituais por sua relação com o Espírito Santo – “Disto também falamos, não em palavras ensinadas pela sabedoria humana, mas ensinadas pelo Espírito, conferindo coisas espirituais como espirituais. Ora o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus.” (I Cor. 2:13-14).

Deus dá Seu Espírito aos verdadeiros cristãos para viver neles e influenciar seus corações como uma fonte de vida e ação. Paulo diz que os cristãos vivem porque Cristo vive neles (Gal. 2:20). Cristo, por Seu Espírito, não só está neles, mas vive neles; vivem por Sua vida. Os cristãos não só bebem da água da vida, porém essa água da vida se torna uma fonte em suas almas, jorram em vida espiritual eterna. (Jo. 4:14). A seiva da verdadeira vinha não flui dentro deles como num cálice, mas em galhos vivos, onde a seiva se torna uma fonte de vida (Jo. 15:5). Assim, as Escrituras chamam os cristãos de “espirituais” porque Deus une Seu Espírito a eles desse modo.

O Espírito de Deus pode influenciar os homens naturais, e efetivamente o faz; veja Num. 24:2; I Sm. 10:10; Hb. 6:4-6. Nesses casos, entretanto, Deus não dá do Seu Espírito como uma fonte de vida espiritual. Não há união entre o Espírito de Deus e o homem natural. Posso ilustrar isso da seguinte forma: a luz pode brilhar num objeto muito escuro e negro, todavia se não fizer com que o próprio objeto dê luz, ninguém vai chamá-lo de objeto brilhante. Assim, quando o Espírito de Deus opera somente sobre a alma, sem se transformar em vida nela, aquela alma não tem se tornado espiritual.

A principal razão para que as Escrituras chamem os cristãos e suas virtudes de “espirituais” é a seguinte: o Espírito Santo produz nos cristãos resultados que se harmonizam com a verdadeira natureza do próprio Espírito.

Santidade é a natureza do Espírito de Deus, portanto, as Escrituras chamam-nO de Espírito Santo. Santidade é a beleza e doçura da natureza divina e a essência do Espírito Santo, assim como o calor é a natureza do fogo. Este Espírito Santo vive nos corações dos cristãos como uma fonte de vida, agindo neles e dando de Si mesmo a eles em Sua doce e divina natureza de santidade. Ele leva a alma a partilhar da beleza espiritual de Deus e da alegria de Cristo, de modo que os crentes associem-se com o Pai e com o Filho, pela participação no Espírito Santo. Assim, a vida espiritual nos corações dos crentes é igual em natureza à própria santidade de Deus, embora em grau infinitamente menor. E como o sol brilhando num diamante. O brilho do diamante é igual em natureza ao brilho do sol, mas em grau menor. E isso que Cristo quer dizer, em Jo. 3:6: “o que é nascido do Espírito, é espírito.” A nova natureza criada pelo Espírito Santo é da mesma natureza do Espírito que a criou; assim, as Escrituras chamam-na de natureza espiritual.

O Espírito opera dessa forma somente nos verdadeiros cristãos. Judas descreve ossafe_image homens de mente mundana como os “que não têm o Espírito” (Jd. 19). Paulo diz que somente os verdadeiros cristãos têm o Espírito Santo neles; e “se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dEle” (Rom. 8:9). Ter o Espírito Santo é sinal certo de estar em Cristo, de acordo com João: “Nisto conhecemos que estamos nele, e ele em nós, pois que nos deu do seu Espírito” (I Jo. 4:13). Em contraste, um homem natural não tem experiência de coisas espirituais; falar delas é tolice para ele, pois não sabe o que significa. “Ora, o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são loucura; e não pode entendê-las porque elas se discernem espiritualmente” (I Cor. 2:14). Jesus mesmo ensinou que o mundo incrédulo não conhece o Espírito Santo: “o Espírito da verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê, nem o conhece” (Jo. 14:17).

E claro, portanto, que os efeitos produzidos pelo Espírito Santo nos verdadeiros cristãos são diferentes de qualquer coisa que o homem possa produzir pelo poderes humanos naturais. É isso que eu quis dizer ao afirmar que as emoções espirituais verdadeiras surgem de influências sobrenaturais.

Disso se segue que os cristãos têm uma nova percepção ou concepção interna em suas mentes, totalmente diferente em natureza de qualquer outra coisa que tenham experimentado antes de serem convertidos. É, por assim dizer, um novo sentido espiritual para coisas espirituais. Esse sentido é diferente de qualquer sentido natural, assim como o sentido do paladar é diferente dos sentidos de visão, audição, olfato, e tato. Por esse novo sentido espiritual, o cristão compreende as coisas de modo diferente da percepção possível ao homem natural; é como a diferença entre simplesmente olhar para o mel e de fato experimentar sua doçura. É por isso que as Escrituras muitas vezes comparam a obra da regeneração pelo Espírito à aquisição de um novo sentido – visão para o cego, audição paia o surdo. Sendo esse sentido espiritual mais nobre e excelente do que qualquer outro, as Escrituras comparam sua concessão ao ressuscitar dos mortos e a uma nova criação.

Muitas pessoas confundem esse novo sentido espiritual com a imaginação, porém é bem diferente da imaginação. Imaginação é uma habilidade comum a todos; permite que tenhamos idéias de paisagens, sons, aromas e outras coisas quando estas não estão presentes. Ainda assim, as pessoas confundem imaginação com o sentido espiritual do seguinte modo: algumas pessoas têm idéias duma luz brilhante imprimida em suas imaginações. Elas chamam a isso de revelação espiritual da glória de Deus; outras têm idéias vigorosas de Cristo pendurado e sangrando na cruz; chamam a isso de visão espiritual de Cristo crucificado; alguns vêem Cristo sorrindo para eles, com Seus braços abertos para abraçá-los; chamam a isso de revelação da graça e do amor de Cristo; alguns têm idéias vívidas do céu, de Cristo ali em Seu trono e brilhantes hostes de anjos e santos; chamam a isso de visão do céu aberto para eles; outros têm idéias de sons e vozes, talvez citando as Escrituras para eles; chamam a isso de ouvir a voz de Cristo em seus corações, ou ter o testemunho do Espírito Santo.

Estas experiências, entretanto, não têm nelas nenhuma coisa de espiritual ou divina. São simplesmente idéias imaginárias ou coisas externas – uma luz, um homem, uma cruz, um trono, uma voz. Essas idéias imaginárias não são espirituais em sua natureza; um homem natural pode ter idéias vivas de formas e cores e sons. A ideia imaginária dum brilho externo e da glória de Deus não é melhor do que a ideia que milhões de incrédulos condenados receberão da glória externa de Cristo no dia do Juízo Final. Uma imagem mental de Cristo pendurado numa cruz não é melhor que aquilo que os judeus não espirituais tiveram, quando ficaram em volta da cruz e viram a Jesus com seus olhos físicos. Pensem sobre isso. Acaso o quadro de Jesus na imaginação seria melhor que a ideia que os católicos romanos conseguem ter de Cristo com suas pinturas e estátuas idólatras dEle? E seriam as emoções inspiradas por essas idéias imaginárias melhores que aquelas que os católicos ignorantes sentem quando adoram essas pinturas e estátuas?

Essas idéias imaginárias estão tão longe de ter natureza espiritual que satanás pode facilmente produzi-las. Se ele pode sugerir pensamentos aos homens, pode também sugerir imagens. Sabemos pelo Velho Testamento que falsos profetas tinham sonhos e visões vindo de falsos espíritos. Vejam Dt. 13:1-3; I Reis 22:21-23; Is. 28:7;Ez. 13:l-9;Zac. 13:2-4. E, se satanás pode imprimir essas ideias imaginárias na mente, então as mesmas não podem ser evidência da obra de Deus.

Ainda que Deus produzisse essas ideias na mente de alguém, isso não provaria coisa alguma sobre a salvação dessa pessoa. Isso está claro nas Escrituras pelo exemplo de Balaão. Deus imprimiu na mente de Balaão uma imagem clara e viva de Jesus Cristo como uma estrela surgindo de Jacó e o cetro surgindo de Israel. Balaão descreve essa experiência da seguinte forma: “palavra daquele que ouve os ditos de Deus, e sabe a ciência do Altíssimo; daquele que tem a visão do Todo–poderoso, e prostra-se, porém de olhos abertos; vê-lo-ei, mas não agora; contemplá-lo-ei, mas não de perto; uma estrela precederá de Jacó, de Israel subirá um cetro” (Num. 24:16-17). Balaão viu a Cristo numa visão, porém não tinha conhecimento espiritual dEle. Não era salvo, apesar da imagem do Salvador impressa por Deus em sua mente.

Emoções surgindo de ideias na imaginação não são espirituais. Emoções espirituais podem produzir essas idéias, especialmente em pessoas de mente enfraquecida, mas idéias na imaginação não podem produzir emoções espirituais. Emoções espirituais só podem surgir de causas espirituais – do Espírito Santo dando-nos compreensão da verdade espiritual. Entretanto, a ideia mental duma visão ou uma voz não é de natureza espiritual, algo que pode ser experimentado tanto por crentes como por incrédulos, uma vez que a imaginação é uma habilidade natural partilhada por todos. Ainda assim, não é de surpreender que idéias religiosas imaginárias muitas vezes despertem emoções naturais em alto grau. O que mais poderíamos esperar, quando a pessoa que tem essas idéias crê que são revelações e sinais do favor de Deus? É claro que ela fica excitada!

vineyardEste é um bom lugar para dizer algo sobre o testemunho ao nosso espírito, pelo Espírito Santo, de que somos filhos de Deus (Rom. 8:16). Muitos não compreendem isso, pelo que tenho percebido. Pensam que o testemunho do Espírito é uma revelação imediata do fato de que são filhos adotados de Deus. É como se Deus falasse ao íntimo deles, por um tipo de voz ou impressão secreta, assegurando-lhes que Ele é seu Pai.

É a palavra “testemunho” que engana essas pessoas a ponto de pensarem assim. Quando as Escrituras dizem que Deus “testifica com o nosso espírito”, elas supõem que deve significar que Deus assegura ou revela a verdade diretamente. Um olhar mais cuidadoso às Escrituras mostra que isso não é correto. Por “ser testemunha” ou “testificar”, o Novo Testamento muitas vezes quer dizer apresentar evidência da qual algo pode ser provado como sendo verdade. Por exemplo, em Hb. 2:4 lemos: “dando Deus testemunho juntamente com eles, por sinais, prodígios e vários milagres, e por distribuição do Espírito Santo segundo a Sua vontade.” Esses sinais, maravilhas, milagres e dons são chamados “testemunho de Deus”, não por serem assertivas, mas por serem evidências e provas. De novo, temos 1Jo. 5:8, quando João chama “a água e o sangue” de testemunha. A água e o sangue não afirmam coisa alguma, porém foram evidências. Mais uma vez, a obra da providência de Deus nas estações de chuva e frutos são “testemunho” da bondade de Deus, isto é, são evidências dessas coisas (At. 14:17).

Quando Paulo fala do Espírito Santo testificando com o nosso espírito que somos filhos de Deus, não quer dizer que o Espírito nos faz alguma sugestão ou revelação sobrenatural. Os versículos anteriores mostram o que Paulo quer dizer: “Pois todos os que são guiados pelo Espírito de Deus são filhos de Deus. Porque não recebestes o espírito da escravidão para viverdes outra vez atemorizados, mas recebestes o espírito de adoção, baseados no qual clamamos: Aba, Pai. O próprio Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus.” (Rom. 8:14-16). Isso significa que o Espírito Santo nos dá evidência de que somos filhos de Deus, por habitar em nós, dirigindo-nos e inclinando-nos a um comportamento para com Deus, tal como filhos para com um pai.

Paulo fala de dois espíritos, o espírito de escravidão, que é o medo; e o espírito de adoção, que é o amor. O espírito de escravidão opera pelo medo; o escravo teme a punição, entretanto o amor clama “Aba, Pai!” e permite que um homem vá até Deus e se comporte como filho dEle. Nesse amor filial por Deus, o crente vê e sente a união de sua alma com Ele. A partir disso tem segurança de ser filho de Deus. Assim, o testemunho do Espírito Santo não se trata de um sussurro espiritual ou revelação imediata. É o efeito santo do Espírito de Deus nos corações dos crentes, levando-os a amar a Deus, odiar o pecado e buscar a santidade. Ou, como Paulo o coloca: “Porque, se viverdes segundo a carne, caminhais para a morte; mas, se pelo espírito mortificardes os feitos do corpo, certamente vivereis” (Rom. 8:13).

Quando Paulo diz que o Espírito Santo testifica com nosso espírito, não quer dizer quefire-heart hajam duas testemunhas separadas e independentes. Quer dizer que recebemos pelo nosso espírito o testemunho do Espírito de Deus. Isto é, nosso espírito vê e declara a evidência de nossa adoção produzida pelo Espírito Santo em nós. Nosso espírito é a parte de nós que as Escrituras chamam, em outro lugar, de o coração (1 Jo. 3: 19-21) e de a consciência (II Cor. 1:12).

Dano terrível tem resultado do pensamento que o testemunho do Espírito Santo seja um tipo de voz interna, sugestão, ou declaração de Deus para um homem que ele é amado, perdoado, eleito, etc. Quantas emoções vigorosas, porém falsas, resultaram dessa ilusão! Receio que multidões tenham ido para o inferno iludidas por elas.

Jonathan Edwards (A Genuína Experiência Espiritual)

TULIP Não Significa Reformado

ReformadoresHá quatro anos, Cristianismo Hoje publicou um artigo, “Jovem, Incansável, Reformado”. Neste artigo, o autor Collin Hansen analisou um fenômeno que existe há uma década: o retorno de muitos jovens cristãos as doutrinas reformadas. Ele entrevistou alguns pastores e jovens membros de igrejas que saíram de movimentos carismáticos e “igrejas sensíveis ao público” que agora adotam as doutrinas do Calvinismo. Na opinião de Hansen, esse retorno é menos divulgado, mas é muito maior e persuasivo do que a “igreja emergente” ou a “igreja sensível ao público”. Ele acredita que o retorno do “Calvinismo” está “balançando a Igreja”. Ele chamou atenção para a popularidade de velhos autores Puritanos entre os “novos Reformados”, especialmente entre os jovens. O velho puritanismo dos séculos 17 e 18 pareciam ser o combustível ideológico por trás do retorno Calvinista. Muitas das obras Puritanas estavam sendo relançadas por causa do interesse renovado. Um professor em Gordon-Conwell chegou a dizer que ele suspeitava que “jovens evangélicos são atraídos aos Puritanos em busca de raízes históricas mais profundas e modelos para um Cristianismo dedicado”.

Isso foi muito encorajador. Tudo de bom que o Ocidente tem hoje – os conceitos de liberdade, estado de direito, ética de trabalho superior, organizações caridosas, espírito empreendedor, poupança e investimento em longo prazo, etc. – é devido a teologia Reformada e aqueles que a aplicaram na prática. Quando a hora chegou da liberdade ser defendida por todo mundo Ocidental, e especialmente na América, foram pregadores Reformados e Puritanos que encorajaram populações a defender suas liberdades sob Deus, e foram leigos Reformados e Puritanos que lideram as estações de batalha contra a opressão. E foram líderes Reformados e Puritanos que trabalharam para construir o Ocidente como uma sociedade justa e próspera, e para espalhar as ideias de liberdade ao resto do mundo; os outros só seguiram o exemplo. Então, se Collins estava correto em sua análise sobre o retorno do Calvinismo, então teríamos de volta a solução historicamente comprovada para a decadência da América no socialismo, paganismo, turbulência política e recessão econômica.

Mas seja qual fosse a esperança que alguém poderia extrair do que Hansen viu como o retorno do Calvinismo, estaria completamente extinguida em nossa experiência dos últimos dois anos. Em uma época em que nossa sociedade está lutando para preservar aquilo que a América já representou – tudo o que os Puritanos nos entregaram no decorrer das gerações – estes “novos Reformados” de Hansen falharam em materializar quando a influencia foi mais necessária. Desde 2008, em nossa intensa guerra cultural contra aqueles que querem subverter a América, as igrejas chamadas de “Reformadas” por Hansen não são de qualquer maneira visíveis. Seja qual for o “combustível” que pegaram emprestado dos Puritanos, não foi capaz de produzir os pregadores reformados responsáveis pela Primeira Revolução Americana. Não vemos esses novos reformadores assumindo a liderança em uma Segunda Revolução Americana. Se a Primeira Revolução foi chamada pelo Rei George de “Revolução Presbiteriana”, não há qualquer motivo para Obama, Nancy Pelosi ou qualquer outro aspirante a tirano esquerdista falar da “Insurreição Reformada” ou da “Tea Party Calvinista”. Longe de serem os herdeiros espirituais ou ideológicos dos Puritanos, os pastores mencionados no artigo de Hansen são muito cuidadosos em nunca mencionar nada de relevante nas batalhas culturais de nosso tempo.

Por quê? Por que um movimento tão grande e persuasivo de retorno as nossas raízes Reformadas não consegue produzir uma resposta apropriadamente Reformada? Uma mente Puritana não deveria produzir uma prática Puritana, individualmente e socialmente? Se os antigos Puritanos nos deram a América, os Puritanos modernos não deveriam restaurar a América ao que ela deveria ser? Como conciliar essa contradição?

A resposta é o seguinte: Não há contradição. Hansen está errado. O que ele acredita ser um “retorno ao Calvinismo” não é. O que ele vê como pastores e crentes “Reformados” não são. A definição que Hansen dá de “Reformado” é truncada. O motivo pelo qual não vemos uma resposta Puritana é porque não há influencia teológica Puritana nas igrejas que ele entrevistou. Ele somente vê a superfície. A essência não é Reformada.

Na procura por igrejas “Reformadas”, Hansen usa a TULIP – o acrônimo dos cinco pontos para Calvinismo – como sua régua de medição. Se uma Igreja acredita na TULIP (Total Depravação, Eleição Incondicional, Expiação Limitada, Graça Irresistível, Perseverança dos Santos), se ensina isso, se isso se tornou o ponto central de sua doutrina, então Hansen acredita que é “Reformada”. TULIP é mencionado, direta ou indiretamente, mais de 20 vezes no artigo. É a inspiração de alguns dos convertidos ao Calvinismo que foram entrevistados em seu artigo. Algumas das igrejas “Reformadas” importantes têm cursos e instruções especiais sobre a TULIP. Outros estão nos púlpitos ousadamente pregando sobre. TULIP é o principio e fim do que Hansen define como “Calvinismo”. Ele acredita que se uma igreja é focada na TULIP, é Reformada.

A verdade que Hansen não percebeu é que TULIP não é a essência da teologia Reformada. É claro, as doutrinas da Total Depravação, Eleição Incondicional, Expiação Limitada, Graça Irresistível e Perseverança dos Santos são um passo inicial importante em direção ao imenso corpo de verdades teológicas chamadas de “teologia Reformada”. É um resultado direto do conceito maior da Soberania de Deus. É uma descrição correta do estado caído do homem e da obra de Deus na salvação do indivíduo. Quando olhamos para o alto e agradecemos a Deus pelo que ele fez pessoalmente por nós, pensamos “TULIP”, mesmo que não conhecêssemos ou compreendêssemos o termo.

Em resumo, TULIP é o acrônimo para o “mecanismo” de nossa salvação pessoal. E só isso. Nada além de nossa salvação pessoal. Mas a teologia Reformada inclui imensuravelmente mais que simplesmente nossa salvação pessoal. E quanto uma Igreja faz da TULIP a soma de toda sua teologia, essa Igreja não é Reformada. Sim, ela deu o primeiro passo nessa direção, mas ainda está longe do objetivo.

Os Puritanos que os “novos Reformados” dizem gostar e seguir ficariam profundamente surpresos se alguém colocasse toda a Soberania de Deus na salvação individual das almas. Isso pareceria realmente egoísta para eles – ficaria parecendo que a Soberania de Deus foi feita para servir as necessidades do homem, em fez da salvação do homem servir aos planos de Deus. A salvação de indivíduos nunca ocupou um status tão alto no pensamento dos Puritanos e sim o Reino de Deus e sua justiça. Os Puritanos entendiam que os planos de Deus eram uma prioridade acima da salvação de indivíduos; o Faraó e seu coração endurecido era um tópico de sermão favorito para muitos pregadores Puritanos. Eles não vinham a soberania de Deus somente na salvação, mas também na condenação e em muitas outras coisas. O evangelismo realmente chamava para o arrependimento individual e para andar em justiça, mas eles compreendiam que pregar a salvação era somente o leite (Hb 6.1-2). Havia mais áreas do conhecimento e práticas que são alimentos mais sólidos e que merecem mais atenção.

O artigo de Hansen mencionou aqueles dentre os jovens “novos Reformados” que saíram das “igrejas sensíveis ao público” e se tornaram Reformadas. Mas o que mudou para essas pessoas? Sim, a justificação teológica para a fé mudou, sem dúvidas. Não acreditam mais que conquistam a própria salvação. Mas as prioridades e motivações mudaram? De jeito nenhum. Tanto em um ambiente “sensíveis ao público” quanto “novo Reformado”, o foco é no EU e no MEU, o que Deus fez por MINHA salvação. O principio e o fim é a salvação pessoal e só isso. Em um sentido muito verdadeiro, os “novos Reformados” são simplesmente uma versão teologicamente correta do movimento “sensível ao público”: o egoísmo da busca continua lá, exceto que agora tem uma teologia melhor. Essa ênfase em si mesmo, nas MINHAS necessidades, pareceria uma reinterpretação grosseira da Soberania de Deus para os antigos Puritanos. Dificilmente eles reconheceriam a si mesmos ou suas ideias no movimento “novo Reformado”. Não é o legado deles e a obsessão com batalha espiritual pessoal não fazia parte de suas mentes ou cultura.

Qual foi o legado deixado pelos Reformadores para futuras gerações?

Não foram igrejas cheias de crentes que ansiosamente estudam teologia somente para regozijar-se com sua salvação pessoal. Alias, com duas exceções – Escócia e Hungria – os primeiros Reformadores não nos deixaram igrejas permanentes. Não foram sermões intelectualizados de linguagem psicologicamente elaborada que analisam cada sentimento e emoção que um crente possa ter. Não foram sermões corajosos sobre tópicos irrelevantes, de importância periférica para nossa era e cultura. E, sem dúvidas, não foi uma crença em um Deus que somente é soberano para salvar indivíduos e nada mais.

O legado mais duradouro foi sobre o cultivo de sociedades, cujas culturas se baseavam na aplicação prática da teologia Reformada, de cima a baixo. Genebra, Estrasburgo, Holanda, Inglaterra, Escócia, Hungria, as comunidades huguenotes na França e posteriormente na Carolina do Norte e do Sul, Oranje-Vrystaat e Transval. Sociedades que se tornaram luz para o mundo, uma encarnação da liberdade e justiça de Cristo para todos. Os crentes Reformados de séculos anteriores construíram uma civilização que influenciou o mundo permanentemente. Eles mudaram o mundo, não pelo egoísmo de enfatizar a própria salvação, mas pela obediência em ensinar as nações e construir o Reino de Deus.

Foram cidades edificadas sobre o monte que nos deixou um legado, e o lema “Cidade Sobre o Monte” é o que melhor descreve a teologia Reformada hoje, não TULIP. Sejam Calvinistas ou Arminianos, Cristãos e Não-Cristãos, todo mundo na América hoje – e não somente na América – é uma testemunha do sucesso de construir aquela “Cidade Sobre o Monte”. Os Puritanos de quem Hansen falou não chegaram nesse litoral para encontrar a perfeita teologia TULIP. De fato, eles criam na soberania de Deus sobre a salvação, mas eles criam em muito mais do que isso. Eles sabiam que eram predestinados por Deus para serem os vasos escolhidos para manifestar a Soberania de Deus sobre culturas e sociedades de homens ao construir uma nova civilização. “Os reinos deste mundo vieram a ser o Reino de nosso Deus” tinha um significado muito específico para os Puritanos, e essa visão era o que caracterizava a visão deles de Soberania.

Com uma visão de Cidade Sobre o Monte, os Puritanos estavam muito mais preocupados com questões legais e culturais da sociedade do que com questões psicológicas e filosóficas da existência humana, como é o caso dos “novos Reformados”. Justiça e retidão era a prioridade acima de espiritualização excessiva e experiências místicas. Desenvolveram códigos legais, teorias e praticas econômicas, organização social, educação e ciência. Eles não se preocupavam com os pequenos e irrelevantes detalhes da vida espiritual do Cristão. Eles viam valor em encarnar as verdades de Deus na cultura, não em teologia do interior. A visão que tinham do mundo era de uma unidade, segundo a Lei de Deus, espiritual ou material, igreja, família, estado, mente, matéria, lei e graça. Eles não seriam capazes de compreender o dualismo das igrejas dos “novos Reformados”. “Pacto”, para eles, não era um termo religioso. Era o componente essencial de todas as relações, espirituais ou temporais, e todos os pactos – na esfera civil, no comercio, igreja, família, escola – deveria imitar o pacto supremo entre Deus e a humanidade em Jesus Cristo.

É por isso que quando John Whitherspoon declarou que a liberdade de cultuar e a liberdade econômica e política eram coisas inseparáveis, ele não estava declarando uma nova doutrina. Ele estava proclamando o que aprendeu com seus antepassados espirituais, com Agostinho, Calvino, Mather e Edwards. E quando os discípulos de Whitherspoon se juntaram para se tornar os Pais Fundadores dos Estados Unidos da América, isso foi um ato verdadeiramente Reformado, uma consequência lógica das doutrinas da Reforma.

Aqueles que querem ser Reformados hoje, não podem ficar limitados ao pensamento confortável de que Deus lhes deu a salvação pessoal. Reformado significa a Soberania de Deus sobre tudo – tudo na vida, pensamento e ação do homem, incluindo a sociedade e cultura do homem. Portanto, os “novos Reformados” de Hansen não são Reformados. É somente uma versão teologicamente de uma religião centrada no homem.

Da próxima vez que Cristianismo Hoje quiser encontrar o retorno do Calvinismo, a frase chave não é TULIP. O retorno do Calvinismo será conhecido pelo seguinte: “Cidade Sobre o Monte”, “Visão de Mundo Abrangente”, “Ensinar as Nações”, “Os Direitos Régios de Jesus Cristo Sobre Todas as Áreas da Vida”, “Cristandade”, “Domínio sob o Pacto de Deus”. O artigo deve se chamar: “Os Reformados, Historicamente Otimistas, Voltados para o Domínio”. Qualquer outra coisa será somente uma imitação vazia do legado dos Puritanos, não verdadeiramente Reformado.

 Escrito por: Bojidar Marinov

Tradução: Frank Brito

Fonte: www.americanvision.org via monergismo.com

Os cinco pontos do Arminianismo e o do Calvinismo

Um teólogo holandês chamado Jacob Hermann, que viveu de 1560 a 1609, era melhor conhecido pela forma latinizada de seu último nome, Arminius. Ainda que educado na tradição reformada, ele se inclinou para as doutrinas humanistas de Erasmo, porque tinha sérias dúvidas a respeito da graça soberana (de Deus), como era ensinada pelos reformadores. Seus discípulos, chamados arminianos ou sectários de Arminius, disseminaram o ensino de seu mestre. Alguns anos depois da morte de Arminius, eles formularam sua doutrina em cinco pontos principais, conhecidos como Os Cinco Pontos do Arminianismo.

Pelo fato de as igrejas dos Países Baixos, em comum com as principais Igrejas Protestantes da Europa, subscreverem as Doutrinas Reformadas da Bélgica e as Confissões de Heidelberg, os arminianos resolveram fazer uma representação ao Parlamento Holandês. Este protesto contra a Fé Reformada, cuidadosamente escrito, foi submetido ao Estado da Holanda, e, em 1618, um Sínodo Nacional da Igreja reuniu-se em Dort para examinar os ensinos de Arminius à luz das Escrituras. Depois de 154 calorosas sessões, que consumiram sete meses, Os Cinco Pontos do Arminianismo foram considerados contrários ao ensino das Escrituras e declarados heréticos. Ao mesmo tempo, os teólogos reafirmaram a posição sustentada pelos Reformadores Protestantes como consistente com as Escrituras, e formularam aquilo que é hoje conhecido como Os Cinco Pontos do Calvinismo (em honra do grande teólogo francês, João Calvino).

Ao longo dos anos, a estudada resposta do Sínodo de Dort às heresias arminianas tem sido apresentada na forma de um acróstico formado pela palavra TULIP. Daí o nome deste pequeno livro.

Os Cinco Pontos do Calvinismo são:

T Total Depravity Depravação Total
U Unconditional Election Eleição Incondicional
L Limited Atonement Expiação Limitada
I Irresistible Grace Graça Irresistível
P Perseverance of Saints Perseverança dos Santos


Uma vez que vamos examinar, pormenorizadamente, aquilo que os teólogos reformados de Dort querem dizer com os Cinco Pontos cio Calvinismo, retro referidos, consideremos primeiro, sumariamente, os Cinco Pontos do Arminianismo.

1.VONTADE LIVRE : O primeiro ponto do arminianismo sustenta que o homem é dotado de vontade livre.

1.1. Os reformadores reconhecem que o homem foi dotado de vontade livre, mas concordam com a tese de Lutero — defendida em sua obra “A Escravidão da Vontade” —, de que o homem não está livre da escravidão a Satanás.

1.2. Arminius acreditava que a queda do homem não foi total, e sustentou que, no homem, restou bem suficientemente capaz de habilitá-lo a querer aceitar Cristo como Salvador.

2.ELEIÇÃO CONDICIONAL

2.1. Arminius ensinava também que a eleição estava baseada no pré-conhecimento de Deus em relação àquele que deve crer.

2.2. Em outras palavras, o ato de fé, por parte do homem, é a condição para ele ser eleito para a vida eterna, uma vez que Deus previu que ele exerceria livremente sua vontade, num ato de volição positiva para com Cristo.

3.EXPIAÇÃO UNIVERSAL

3.1. Conquanto a convicção posterior de Arminius fosse a de que Deus ama a todos, de que Cristo morreu por todos e de que o Pai não quer que ninguém se perca, ele e seus seguidores sustentam que a redenção (usada casualmente como sinônimo de expiação) é geral. Em outras palavras:

3.2. A morte de Cristo oferece a Deus base para salvar a todos os homens.

3.3. Contudo, cada homem deve exercer sua livre vontade para aceitar a Cristo.

4.A GRAÇA PODE SER IMPEDIDA

4.1. O arminiano, em seguida, crê que uma vez que Deus quer que todos os homens sejam salvos, ele envia seu Santo Espírito para atrair todos os homens a Cristo.

4.2. Contudo, desde que o homem goza de vontade livre absoluta, ele pode resistir à vontade de Deus em relação a sua própria vida. (A ordem arminiana sustenta que, primeiro, o homem exerce sua própria vontade e só depois nasce de novo.)

4.3. Ainda que o arminiano creia que Deus é onipotente, insiste em que a vontade de Deus, em salvar a todos os homens, pode ser frustrada pela finita vontade do homem como indivíduo.

5.O HOMEM PODE CAIR DA GRAÇA

5.1. O quinto ponto do arminianismo é a conseqüência lógica das precedentes posições de seu sistema.
5.2. O homem não pode continuar na salvação, a menos que continue a querer ser salvo.

O CONTRASTE

Quando contrastamos estes Cinco Pontos do Arminianismo com o acróstico TULIP, que forma os Cinco Pontos do Calvinismo, torna-se claro que os cinco pontos deste são diametralmente opostos aos daquele. Para que possamos ver claramente as “linhas de batalha” traçadas pelas afiadas mentes de ambos os lados, comecemos por fazer um breve contraste entre as duas posições à base de ponto por ponto.

PONTO 1

1.1.O arminianismo diz que a vontade do homem é ‘livre’ para escolher, ou a Palavra de Deus, ou a palavra de Satanás. A salvação, portanto, depende da obra de sua fé.

1.2.O calvinismo responde que o homem não regenerado é absolutamente escravo de Satanás, e, por isso, é totalmente incapaz de exercer sua própria vontade livremente (para salvar-se), dependendo, portanto, da obra de Deus, que deve vivificar o homem, antes que este possa crer em Cristo.

PONTO 2

2.1.Arminius sustentava que a ‘eleição’ é condicional, enquanto os reformadores sustentavam que ela é incondicional. Os arminianos acreditam que Deus elegeu àqueles a quem ‘pré-conheceu’, sabendo que aceitariam a salvação, de modo que o pré-conhecimento [de Deus] estava baseado na condição estabelecida pelo homem.

2.2 Os calvinistas sustentam que o pré-conhecimento de Deus está baseado no propósito ou no plano de Deus, de modo que a eleição não está baseada em alguma condição imaginária inventada pelo homem, mas resulta da livre vontade do Criador à parte de qualquer obra de fé do homem espiritualmente morto.

2.3 Dever-se-á notar ainda que a segunda posição de cada um destes partidos (arminianos e calvinistas) é expressão natural de suas respectivas doutrinas a respeito do homem. Se o homem tem “vontade livre”, e não é escravo nem de Satanás nem do pecado, então ele é capaz de criar a condição pela qual Deus pode elegê-lo e salvá-lo. Contudo, se o homem não tem vontade livre, mas, em sua atual situação, é escravo de Satanás e do pecado, então sua única esperança é que Deus o tenha escolhido por sua livre vontade e o tenha elegido para a salvação.

PONTO 3

Os arminianos insistem em que a expiação (e, por esta palavra, eles significam ‘redenção’) é universal. Os calvinistas, por sua vez, insistem em que a Redenção é parcial, isto é, a Expiação Limitada é feita por Cristo na cruz.

3.1. Segundo o arminianismo, Cristo morreu para salvar não um em particular, porém somente àqueles que exercem sua vontade livre e aceitam o oferecimento de vida eterna. Daí, a morte de Cristo foi um fracasso parcial, uma vez que os que têm volição negativa, isto é, os que não a querem aceitar, irão para o inferno.

3.2. Para o calvinismo, Cristo morreu para salvar pessoas determinadas, que lhe foram dadas pelo Pai desde toda a eternidade. Sua morte, portanto, foi cem por cento bem sucedida, porque todos aqueles pelos quais ele não morreu receberão a “justiça” de Deus, quando forem lançados no inferno.

PONTO 4

4.1.Os arminianos afirmam que, ainda que o Espírito Santo procure levar todos os homens a Cristo (uma vez que Deus ama a toda a humanidade e deseja salvar a todos os homens), ainda assim, como a vontade de Deus está amarrada à vontade do homem, o Espírito [de Deus] pode ser resistido pelo homem, se o homem assim o quiser. Desde que só o homem pode determinar se quer ou não ser salvo, é evidente que Deus, pelo menos, ‘permite’ ao homem obstruir sua santa vontade. Assim, Deus se mostra impotente em face da vontade do homem, de modo que a criatura pode ser como Deus, exatamente como Satanás prometeu a Eva, no jardim [do Éden].

4.2. Os calvinistas respondem que a graça de Deus não pode ser obstruída, visto que sua graça é irresistível. Os calvinistas não querem significar com isso que Deus esmaga a vontade obstinada do homem como um gigantesco rolo compressor! A graça irresistível não está baseada na onipotência de Deus, ainda que poderia ser assim, se Deus o quisesse, mas está baseada mais no dom da vida, conhecido como regeneração. Desde que todos os espíritos mortos (alienados de Deus) são levados a Satanás, o deus dos mortos, e todos os espíritos vivos (regenerados) são guiados irresistivelmente para Deus (o Deus dos vivos), nosso Senhor, simplesmente, dá a seus escolhidos o Espírito de Vida.
No momento em que Deus age nos eleitos, a polaridade espiritual deles é mudada: Antes estavam mortos em delitos e pecados, e orientados para Satanás; agora são vivificados em Cristo, e orientados para Deus.

É neste ponto que aparece outra grande diferença entre a teologia arminiana e a teologia calvinista. Para os calvinistas, a ordem é: primeiro o dom da vida, por parte de Deus; e, depois, a fé salvadora, por parte do homem.

PONTO 5

511. Os arminianos concluem, muito logicamente, que o homem, sendo salvo por um ato de sua própria vontade livremente exercida, aceitando a Cristo por sua própria decisão, pode também perder-se depois de ter sido salvo, se resolver mudar de atitude para com Cristo, rejeitando-o! (Alguns arminianos acrescentariam que o homem pode perder, subseqüentemente, sua salvação, cometendo algum pecado, uma vez que a teologia arminiana é uma “teologia de obras” — pelo menos no sentido e na extensão em que o homem precisa exercer sua própria vontade para ser salvo.) Esta possibilidade de perder-se, depois de ter sido salvo, é chamada de “queda (ou perda) da graça”, pelos seguidores de Arminius. Ainda, se depois de ter sido salva, a pessoa pode perder-se, ela pode tornar-se livremente a Cristo outra vez e, arrependendo-se de seus pecados, “pode ser salva de novo”. Tudo depende de sua contínua volição positiva até à morte!

5.2. Os calvinistas sustentam muito simplesmente que a salvação, desde que é obra realizada inteiramente pelo Senhor — e que o homem nada tem a fazer antes, absolutamente, “para ser salvo” —, é óbvio que o “permanecer salvo” é, também, obra de Deus, à parte de qualquer bem ou mal que o eleito possa praticar. Os eleitos ‘perseverarão’ pela simples razão de que Deus prometeu completar, em nós, a obra que ele começou. Por isso, os cinco pontos de TULIP incluem a Perseverança dos Santos.


Fonte: TULIP – Os Cinco Pontos do Calvinismo à Luz das Escrituras

Os Puritanos (1)

Os puritanos ingleses foram ministros na Igreja da Inglaterra que tentaram produzir uma  reforma na Igreja nacional.  Os puritanos constituíam sempre uma minoria, a qual nunca excedeu 20%. Não foram bem-sucedidos na sua tentativa de reformar a Igreja.  Contudo, eles exerceram um estilo de oração e pregação que teve grande influência na nação.  Nos seus escritos encontramos os melhores recursos da literatura expositiva cristã jamais disponíveis na história da Igreja Cristã no mundo.  Desde a década dos anos 1960, o valor dos livros puritanos tem sido redescoberto nos países de língua inglesa.  Subsequentemente, certos títulos excelentes têm sido traduzidos para outras línguas.  Os puritanos ingleses, como pastores e pregadores, foram mais fortes onde nós somos mais fracos hoje.  Esta série irá relatar a história de como os puritanos ingleses vieram a existir.  Irá descrever as vidas de puritanos proeminentes. Certos assuntos relevantes em que foram mestres serão expostos para o nosso proveito.

A História dos Puritanos

Em sua “Abreviada História do Povo Inglês”, J.R. Green declarou: “Nenhuma mudança moral jamais aconteceu numa nação como ocorreu na Inglaterra durante os anos entre a metade do reinado de Elizabeth e o encontro do Longo Parlamento (1640-1660). A Inglaterra se tornou o povo de um livro, e este livro era a Bíblia”.[1]

Isso pode soar exagerado, mas podemos ter certeza de que Green quis dizer que os Puritanos eventualmente exerceram uma influência espiritual totalmente desproporcional ao seu pequeno número, pois sempre eram minoria. Isso ajudará a ver a história em perspectiva se nos lembrarmos de que a população da Inglaterra em 1500 era de cerca de dois milhões e por volta de 1600 havia crescido para aproximadamente quatro milhões. Em relação à religião, apesar da obrigatoriedade de se frequentar a igreja, é duvidoso afirmar que mais do que um quarto da população da Inglaterra durante este período tinha qualquer religião. É interessante observar que, na atualidade, a população da Inglaterra é de cerca 48 milhões e o país é dividido em 13.000 paróquias com 10.000 clérigos, 8.000 assalariados. Esta observação geral precisa ser lembrada, não somente pelo período em questão, porém muito mais em relação aos tempos atuais, quando aqueles que professam e praticam a fé cristã constituem provavelmente menos de 10 por cento da população. Ralph Josselin, em sua paróquia em Essex não celebrou sua Ceia do Senhor por nove anos e quando ele o fez, em 1651, apenas trinta e quatro pessoas foram qualificadas para participar. Josselin falou de três categorias de paroquianos: primeiro, aqueles que raramente ouvem a pregação; segundo, aqueles que são “ouvintes sonolentos”; e terceiro, “nossa sociedade” um pequeno grupo de pessoas piedosas.

A religião nominal sempre tem caracterizado a grande maioria dos Anglicanos. Era assim naquela época tanto quanto agora. Por volta de 1600, o número de ministros puritanos havia crescido cerca de dez por cento, ou seja, em torno de 800 dos 8.000 clérigos da igreja da Inglaterra. Por volta de 1660, esta proporção cresceu aproximadamente vinte e cinco por cento. Entre 1660 e 1662 cerca de 2.000 foram expulsos da Igreja Nacional da Inglaterra.

Antes da Reforma, a igreja da Inglaterra era católico-romana. Em características, era uma coleção de práticas, hábitos e atitudes ao invés de um corpo de doutrinas intelectualmente coerentes. A protestantização da Inglaterra foi essencialmente gradual, ocorrendo vagarosamente durante o reinado de Elizabeth “um pouco aqui, um pouco ali”, e de forma muito fragmentada. A partir de 1600, o crescimento começou a acelerar-se. Na época do rompimento de Henrique VIII com Roma, a Inglaterra era totalmente católico-romana. Por volta de 1642, estima-se que não mais de dois por cento eram católicos, embora dez por cento da aristocracia ainda o fosse.

Por todo o período que desejo destacar a Inglaterra era uma sociedade monolítica. Todos eram obrigados a conformarem-se à Igreja da Inglaterra. Isso gerou os “recusantes”, aqueles que, por causa de suas convicções puritanas ou pela lealdade à igreja católica romana, recusaram-se a frequentar os cultos da Igreja da Inglaterra. De 1570 a 1791 isso era sujeito a penalidades que envolviam muitas desvantagens civis. Os recusantes passaram a aquietar-se para se livrarem dos problemas. Foi durante o período de 1640 a 1660 que surgiram as denominações cristas: Presbiterianas, Congregacionais, Batistas e Quaqueres (todos estes juntos representando cerca de cinco por cento da população apenas). O Ato de Tolerância de 1689 marcou o fim da alegação da Igreja da Inglaterra se ser a única Igreja inclusiva do povo inglês, embora continuasse a ser a Igreja estabelecida pela lei.


[1] J.R. Green, Short Story of the English People

Fonte: Quem foram os Puritanos, Erroll Hulse – PES, 2004