Conheça seu Inimigo (2) | Josaías Jr.

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Então o diabo o transportou à cidade santa, e colocou-o sobre o pináculo do templo,

E disse-lhe: Se tu és o Filho de Deus, lança-te de aqui abaixo; porque está escrito: Que aos seus anjos dará ordens a teu respeito, E tomar-te-ão nas mãos, Para que nunca tropeces em alguma pedra.

Disse-lhe Jesus: Também está escrito: Não tentarás o Senhor teu Deus.

Mateus 4.5-7

Use e abuse: Os anjos te salvarão

A segunda tentação parece um pouco estranha para alguns, mas imagine a situação de Jesus¹. Ou imagine você nessa situação. Você esteve em um deserto por 40 dias. Você esteve com fome, com sede, cercado por feras, sem qualquer pessoa para conversar. Você passou os dias com calor e as noites com frio. Você esteve indefeso e solitário.

Não é nessa situação que imaginamos o Filho de Deus. Ou qualquer dos filhos de Deus. Ou mesmo qualquer pessoa. Fomos criados para viver em um jardim, entre animais que nos obedeciam e nos respeitavam, acompanhados de um cônjuge, de um Deus, de árvores de todo tipo. Não havia fome, solidão, perigo ou desamparo.

Não é sem motivo que o diabo leva Jesus para um cenário que é oposto ao deserto. Eles vão parar na cidade santa, onde multidões caminham, e não há solidão. Sobem ao topo do templo, o centro da vida política, cultural e religiosa de Israel. O templo era o local onde se cria que Deus habitava, um pequeno retorno ao Éden, com suas representações de animais e árvores². Este sim é o local adequado para os filhos de Deus. Afinal, “está Deus no meio de nós ou não?”, já diziam os judeus no deserto.

Então, o diabo cita o Salmo 91. Ele fala de alguém que sai vitorioso das provações. Alguém que foi salvo porque amava a Deus, que foi posto em “um alto retiro” por conhecer o nome dele. Alguém que não foi abandonado em meio às feras. Deus está com este personagem ou não? É óbvio que sim!

Com isso em mente, imagine essa prova para você. Você está mais acostumado com ela que pensa. Não tenho a menor dúvida de que existem problemas afligindo sua vida. Nesse mundo caído, sempre há problemas. Seja uma doença, falta de namorada, vestibular, relacionamentos, desemprego. Ou então, coisas menos rotineiras, como dúvidas em relação à salvação, respostas de oração, a falta de algum tipo de experiência mais “espiritual”, ou uma igreja que não responde da maneira esperada ao seu ministério. Você se sente só e desamparado às vezes. Está Deus comigo ou não?

Mas eis que surge a solução. Prove Deus. Teste-o! Um anjo aparece pra você e diz: “Suas dúvidas podem acabar. Tudo o que você precisa fazer é _________ e Deus te mostrará que está com você”. Traduzindo para nossa vida: peça uma prova, exija uma evidência, agarre-se a algo – ele deve mostrar o amor por você, não? Ele está entre nós ou não?

O problema é que, biblicamente, essa opção, que parece mostrar tanta fé e piedade é, na verdade, falta de confiança. É abuso, manipulação. Logo após Jesus citar a “palavra que sai da boca de Deus”, o inimigo usa um texto bíblico para fazer seu argumento. Somos semelhantes ao povo de Israel que esperava sinal o tempo todo, ou que pensava que o templo era sinônimo de bênção e proteção – não importa quantos outros deuses eles adoravam juntos de Yahweh. Eles responderiam: o templo está entre nós, logo Deus está entre nós. Manipulação dos benefícios que a aliança trouxe a eles.

Quantas vezes não caímos por tentar manipular a Deus fazendo o mesmo? Como o crente que lança maldições sobre desafetos no trabalho por achar-se numa posição superior após ler “amaldiçoarei aqueles que te amaldiçoarem” (Gn 12.3). Ou o irmão que espera prosperidade em resposta ao seu dízimo (Ml 3.10). Como aqueles que leem Hebreus 11 até o começo do verso 35, consideram-se “heróis da fé” e ignoram o que vem depois.

Para os reformados e evangélicos, em especial, o maior perigo é o abuso da graça. É testar Deus por meio de pecados, pecados e pecados acreditando que a graça significa apenas perdão e não regeneração, santificação e glorificação. Deus está comigo, de qualquer forma, de qualquer jeito, porque ele prometeu.

É curioso que o salmo citado por Satanás é o Salmo 91, um dos mais famosos em nosso país, usado como amuleto em diferentes lares, de diferentes práticas, religiões e tradições. Criticamos essa prática supersticiosa no Brasil, mas podemos ter também nosso “Salmo 91″. Seria o fato de eu ser membro de igreja? A crença no perdão de Deus mesmo para aqueles que não se arrependem? Os cinco pontos ou os cinco solas? O sentimento de euforia após um culto de acampamento? Aquela sensaçãozinha de paz a que me agarro, mesmo vivendo como se Cristo não vivesse em mim? Ou a tola esperança de que num último momento Deus realmente vai mandar os anjos e eu não vou me esborrachar lá embaixo?

A resposta de Jesus contra o inimigo é Deuteronômio 6.16, um texto que faz referência aos incidentes de Massá e Meribá (Êx 17; cf; Sl 95) – quando faltou água no deserto e o povo começou a dizer “está Deus no meio de nós?”. Meribá signfica “rebelião” e Massá significa “provação”. Como fez com Israel, o diabo queria levar Jesus a rebelar-se contra seu Pai, por meio de provas. Novamente, Satanás queria que Jesus se assemelhasse a ele, tornando-se um tentador. Hoje, essa provocação atormenta os filhos de Deus. Às vezes, quando pensamos ser muito piedosos, ao invés de nos assemelharmos a Cristo, podemos estar mais parecidos com aquele que o tentou.

Octavius Winslow nos lembra que, nesse trecho, Satanás disfarça a autodestruição chamando-a de salvação. Nosso coração é enganoso e procura manipular tudo a seu favor. O sinal de piedade que o diabo propôs era certeza de suicídio.

¹ Nesse ponto, em especial, sou devedor a Russell Moore em seu livro Tempted and Tried.
² Para uma tabela que mostra a ligação ente o Éden e o Templo/Tabernáculo, ver God’s Glory in Salvation through Judgment: a Biblical Theology,  de James M. Hamilton. Boas informações também em From  Eden to  the New Jerusalem,  de T. Desmond  Alexander.

Por Josaías Jr. | Reforma 21

Crer é Também Pensar | John Stott (Resenha do Livro)

crer também é pensar

John Stott é um líder cristão, muito conhecido por suas obras teológicas e pastorais. Escritor, pregador e evangelista, temos editadas em português várias de suas obras, entre elas Cristianismo Básico, Ouça o Espírito, Ouça o Mundo, Mentalidade Cristã e vários comentários bíblicos da famosa série A Bíblia Fala Hoje, como A Mensagem de Gálatas, Contracultura Cristã, Tu, Porém.

Stott serviu como pastor da Igreja Anglicana All Souls no centro de Londres, como capelão honorário da rainha Elizabeth, líder da Aliança Evangélica Britânica. Foi preletor do Congresso de Evangelização Mundial em Lausanne, na Suiça em 1974 e posteriormente serviu como membro do comitê do movimento de Lausanne.

Stott já esteve várias vezes na América Latina e foi um dos incentivadores na fundação da Fraternidade Teológica Latino Americana (FTL). Sua influência na formação de líderes latino americanos foi muito mais além do que seus livros. Hoje a fundação John Stott provê livros e material acadêmico aos pastores do Terceiro Mundo, financiando bolsas de estudos e pesquisa.

O livro escolhido para ser resenhado foi publicado por John Stott na Inglaterra pela Inter-Varsity Press, em 1972. Com o seguinte título, Your Mind Matters, algo como “sua mente tem importância”. Já no título ele apresenta sua tese principal. A importância da mente racional na fé cristã.

O primeiro capítulo, Cristianismo de Mente Vazia, Stott desafia a tendência anti-intelectual de muitos crentes. Baseados na filosofia secular do pragmatismo de muitos crentes que abandonam a doutrina em busca da prática. Stott critica esses crentes afirmando que toda boa doutrina é sempre acompanhada de um ensino prático. Ele cita três grupos que fazem isto: os católicos (e acrescento, muitos evangélicos) que ritualizam sua relação com Deus, mecanizando sua relação com Deus. O segundo grupo, os cristãos radicais que concentram suas energias na ação social e na preocupação ecumênica. Se bem que este grupo seja (ainda) pequeno no evangelicalismo brasileiro, é uma postura bastante comum entre os crentes britânicos. Sua luta social esconde uma ignorância e desprezo pela doutrina. O terceiro grupo alistado por Stott, são os crentes pentecostais. (esses nós temos de sobra!). a busca incessante dos pentecostais por experiências com Deus, os leva, geralmente, a colocar o subjetivismo e o emocionalismo acima da doutrina bíblica.

Para Stott “ são válvulas de escape para fugir à responsabilidade, dada por Deus, do uso cristão de nossas mentes”.

O segundo capítulo, Por que usar nossas mentes?. John Stott apresenta sua defesa contra a postura vazia dos ignorantes. Parte do mandato evangelístico que Cristo nos deixou. O evangelho deve ser proclamado utilizando a razão humana. A motivação para isto, Stott encontra na Criação. O ser humano foi criado por Deus, um ser racional. Mesmo que esta racionalidade tenha sido maculada pela Queda, ainda assim, Deus se manifestou ao ser humano em categorias racionais.

Segundo suas palavras: “É certo que alguns chegaram à conclusão oposta. Já que o homem é finito e decaído, argumentam, já que não pode descobrir a Deus através de sua mente, tendo Deus que se revelar por Si, então a mente não é importante. Mas não! A doutrina cristã da revelação, ao invés de fazer da mente algo desnecessário, na verdade a torna indispensável e a coloca no seu devido lugar. Deus se revelou por intermédio de palavras às mentes humanas [1]. Sua revelação racional a criaturas racionais. Nosso dever é receber sua mensagem, submetermo-nos a ela, esforçando-nos por compreendê-la e relacionarmo-la com o mundo que vivemos.”

O terceiro capítulo, a mente na vida cristã, o pastor John Stott apresenta “os modos segundo os quais Deus deseja que usemos nossas mentes”. Ele alista seis áreas da vida cristã.

Stott define a fé como “uma confiança racional, uma confiança que, em profunda reflexão e certeza, conta com o fato que Deus é digno de todo crédito”. A fé é um ato de pensar.

Ele fala do culto cristão, lugar onde a mente do crente deve estar ativa e empenhada em produzir frutos. A fé é alistada logo em seguida. E Stott define a fé como “uma confiança racional, uma confiança que, em profunda reflexão e certeza, conta com o fato que Deus é digno de todo crédito”. A fé é uma ato de pensar.

Depois, ele alista a terceira área da vida cristã. A busca da santidade. Interessante a definição de Stott para santo. Ser aquilo que Deus deseja que sejamos. E não basta apenas saber o que deveríamos ser, entretanto, temos que ir mais além. Resolvendo em nossas mentes, a alcançá-lo.

A quarta característica, as escolhas que temos fazer como cristãos. Stott fala sobre a responsabilidade do crente conhecer a vontade de Deus. então, ela apresenta uma distinção que é bem típica de sua teologia. Existe uma vontade de Deus geral e outra particular. No comentário de Efésios, também publicado pela ABU editora, ele expande mais este pensamento. Deus nos escolheu para sermos conforme à imagem de Jesus (Rm 8:29), esta é a vontade geral. No caso da particular, Deus nos orienta a fazer as escolhas certas. Para cada situação específica. E como a Bíblia não é um livro de receitas, mas um livro de princípios, o crente deve usar a sua mente para discernir o melhor caminho para sua vida.

O quinto exemplo apresentado tem haver com a evangelização. Stott lembra-nos que a apresentação do evangelho deve ter um conteúdo sólido. A mensagem cristã não deve ser baseada no emocionalismo, mas deve ser profunda. Stott se baseia em Paulo para afirmar que nossa mensagem alcança o intelecto do homem. Em seguida ele nos apresenta a tese de que a conversão, é uma conversão a uma verdade. Uma proposição intelectual.

O sexto e último exemplo são os ministérios e seus dons. Parece-me que para muitos crentes hoje em dia, falar em dons espirituais nada tem haver com o uso da mente. Mas, Stott acredita que sim. Os dons espirituais não excluem o uso da nossa mente. O ministério cristão é essencialmente de ensino, e este ensino que fundamenta a nossa fé vem como capacitação espiritual e sobrenatural.

O último capítulo, 4, entitulado Aplicando o Nosso Conhecimento, é a conclusão deste (grande) pequeno livro. Stott apresenta um resumo do que ele vinha falando até então e nos desafia a aplicar o que aprendemos com ele nesta (curta, porém profunda) caminhada. Este conhecimento deve nos conduzir a certas atitudes. Stott apresenta 4.

O conhecimento deve conduzir-nos a adoração, à fé, à santidade e ao amor. E ele conclui dizendo:

“O conhecimento é indispensável à vida e ao serviço cristãos. Se não usamos a mente que Deus nos deu, condenamo-nos à superficialidade espiritual, impedindo-nos de alcançar muitas riquezas da graça de Deus. Ao mesmo tempo, o conhecimento nos é dado para ser usado, para nos levar a cultuar melhor a Deus, nos conduzir a uma fé maior, a uma santidade mais profunda, a um melhor serviço. Não é de menos conhecimento que precisamos, mas sim de mais conhecimento, desde que o apliquemos em nossa vida”.

STOTT, John R. W. Crer é também Pensar. A importância da mente cristã. Trad. Milton Azevedo Andrade. Sexta impressão. ABU Editora. São Paulo, SP. 1994.

Adquira o livro clicando nesse link: goo.gl/sa79Ta

Resenhado por Isaias Lobão P. Jr.

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Uma surpreendente obra de Deus | Kevin DeYoung

Revival-1Existem apenas algumas coisas que permanecem semanalmente na minha lista de oração. Uma delas é o avivamento ou reavivamento. Eu acredito que Deus tenha se movido no passado para inflamar grandes avivamentos. Eu acredito que ele pode fazê-lo novamente. E eu acredito que seria bom que os cristãos pregassem e orassem por um avivamento cristocêntrico em nossos dias, que ame o Evangelho, glorifique a Deus e seja dado pelo Espírito.

Claro, isso levanta a questão: o que é verdadeiro avivamento? Vou chegar a uma definição em um momento e falarei mais sobre o modelo bíblico de renovação e reforma no próximo texto, mas permita-me começar mostrando algumas noções falsas sobre avivamento.

Primeiro, avivamento não é reavivalismo. Obviamente, quando você adiciona o “ismo” isso soa assustador, mas eu acho que há uma distinção importante a defender. Entendo por reavivalismo um evento programado, produzido e determinado por homens. No início do século XIX, uma mudança profunda aconteceu. Considerando que antes avivamentos eram vistos como obras da soberania de Deus pelo que alguém orava e jejuava mas não conseguia planejar, a partir de 1800 os avivamentos tornaram-se produções programadas. Você poderia montar uma barraca e anunciar um avivamento na próxima quinta-feira. Se você colocar uma música nova aqui, um coral lá, um certo estilo de pregação, um banco para os pecadores arrependidos, você pode ter certeza de uma resposta. Isso é um avivamento feito por homens, não verdadeiro avivamento.

Segundo, avivamento não é individualismo. Com isso quero dizer que um avivamento é um evento corporativo. É uma coisa maravilhosa quando Deus muda um só coração, especialmente no meio de muitos ossos secos, mas não é disso que estamos falando. Quando Deus envia um avivamento, ele varre uma igreja inteira, várias igrejas ou comunidades, e toca uma diversidade de pessoas (por exemplo, jovens, velhos, ricos, pobres, educados, incultos). Não é apenas uma transformação individual, de tão maravilhoso que é.

Terceiro, avivamento não é emocionalismo. De fato, verdadeiro avivamento pode produzir grande emoção. Mas a emoção em si não indica uma verdadeira obra do Espírito. Você pode levantar as mãos, ou ficar duro, chorar histericamente, ou ter uma grande calma, cair no chão, saltar para cima e para baixo, gritar Amém, fazer orações altas ou suaves, se sentir muito espiritual ou se sentir muito insignificante. Estes são o que Jonathan Edwards chama de “não-sinais”. Eles não dizem nada de um jeito ou de outro. Se você levanta as mãos ao cantar uma canção de louvor, isso pode significar que você está encantado com o amor de Deus, ou pode significar que você tem uma personalidade expressiva e a música proporciona uma liberação de energia. Se você canta um hino com solenidade e gravidade, pode ser que você está cantando com profundo temor e reverência, ou pode significar que a sua religião é mero formalismo e você está realmente entediado. Verdadeiro avivamento é marcado por mais do que a presença ou ausência de emoção tremenda.

Quarto, avivamento não é idealismo. Avivamento não significa que o céu chega na terra. Ele não inaugura uma utopia espiritual. Não resolve todos os problemas da igreja. Na verdade, o avivamento, com todas as suas bênçãos, geralmente traz novos problemas. Muitas vezes existe controvérsia. Pode haver orgulho e inveja. Pode haver suspeita. E além dessas obras da carne, Satanás muitas vezes desperta falsos avivamentos. Ele semeia sementes de confusão e engano. Assim, tanto quanto nós devemos ansiar por avivamento, não devemos esperar que ele seja a cura para todos os problemas da vida, e muito menos um substituto para décadas de tranquilidade, obediência fiel e crescimento.

Então, o que é verdadeiro avivamento? Aqui está a minha definição: O verdadeiro avivamento é uma soberana, repentina e extraordinária obra de Deus pela qual ele salva pecadores e traz vida nova para o seu povo.

  • O verdadeiro avivamento é uma soberana (dependente do tempo de Deus, realizado por Deus , concedido conforme a vontade de Deus)
  • repentina (conversões, crescimento e mudanças acontecem de forma relativamente rápida)
  • extraordinária (incomum, surpreendente)
  • obra de Deus (não nossa)
  • pela qual ele salva pecadores (regeneração levando a fé e arrependimento)
  • e traz vida nova para o seu povo (com afeições, comprometimento e obediência renovados).

Um dos melhores exemplos do verdadeiro avivamento na Bíblia é a história de Josias, em 2 Reis 22-23. A história não é um projeto para ser imitado em todos os aspectos, especialmente porque Josias é rei sobre uma teocracia. Mas a história é instrutiva, na medida em que nos dá uma imagem de uma soberana, rápida e extraordinária obra de Deus.

Vamos ver com o que isso se parece no próximo texto.

Traduzido por Annelise Schulz | Reforma21.org

O calvinista – John Piper

“Escrevi este poema chamado “O calvinista” para capturar um vislumbre de intersecção soberana de Deus com a vida de um homem pecador. Não há nenhuma parte da vida em que a grandeza de Deus não penetra profundamente. Eu quero ajudá-lo a sentir isso.

Minha oração é que este grande e glorioso Deus soberano esteja diante de sua Palavra e de nossas vidas com tanta força convincente, que, mais cedo ou mais tarde, os reinos da terra se tornarao o reino do nosso Deus, por Jesus Cristo.

John Piper

*Pira: Fogueira em que os antigos incineravam cadáveres; vaso em que arde um fogo simbólico.

http://www.desiringgod.org/

Soli Deo Gloria !

Depravação radical – Steven Lawson

http://vimeo.com/52156772

Steven Lawson nos convida a considerarmos seriamente a doutrina da depravação total, a fim de que tenhamos um maior amor pelo Salvador e uma maior apreciação de nossa tão grande salvação. Através das palavras de Jesus no Evangelho de João, Lawson mostra que o homem pecador está sob uma terrível condição espiritual de ignorância, ódio, rebelião e surdez.

TULIP Não Significa Reformado

ReformadoresHá quatro anos, Cristianismo Hoje publicou um artigo, “Jovem, Incansável, Reformado”. Neste artigo, o autor Collin Hansen analisou um fenômeno que existe há uma década: o retorno de muitos jovens cristãos as doutrinas reformadas. Ele entrevistou alguns pastores e jovens membros de igrejas que saíram de movimentos carismáticos e “igrejas sensíveis ao público” que agora adotam as doutrinas do Calvinismo. Na opinião de Hansen, esse retorno é menos divulgado, mas é muito maior e persuasivo do que a “igreja emergente” ou a “igreja sensível ao público”. Ele acredita que o retorno do “Calvinismo” está “balançando a Igreja”. Ele chamou atenção para a popularidade de velhos autores Puritanos entre os “novos Reformados”, especialmente entre os jovens. O velho puritanismo dos séculos 17 e 18 pareciam ser o combustível ideológico por trás do retorno Calvinista. Muitas das obras Puritanas estavam sendo relançadas por causa do interesse renovado. Um professor em Gordon-Conwell chegou a dizer que ele suspeitava que “jovens evangélicos são atraídos aos Puritanos em busca de raízes históricas mais profundas e modelos para um Cristianismo dedicado”.

Isso foi muito encorajador. Tudo de bom que o Ocidente tem hoje – os conceitos de liberdade, estado de direito, ética de trabalho superior, organizações caridosas, espírito empreendedor, poupança e investimento em longo prazo, etc. – é devido a teologia Reformada e aqueles que a aplicaram na prática. Quando a hora chegou da liberdade ser defendida por todo mundo Ocidental, e especialmente na América, foram pregadores Reformados e Puritanos que encorajaram populações a defender suas liberdades sob Deus, e foram leigos Reformados e Puritanos que lideram as estações de batalha contra a opressão. E foram líderes Reformados e Puritanos que trabalharam para construir o Ocidente como uma sociedade justa e próspera, e para espalhar as ideias de liberdade ao resto do mundo; os outros só seguiram o exemplo. Então, se Collins estava correto em sua análise sobre o retorno do Calvinismo, então teríamos de volta a solução historicamente comprovada para a decadência da América no socialismo, paganismo, turbulência política e recessão econômica.

Mas seja qual fosse a esperança que alguém poderia extrair do que Hansen viu como o retorno do Calvinismo, estaria completamente extinguida em nossa experiência dos últimos dois anos. Em uma época em que nossa sociedade está lutando para preservar aquilo que a América já representou – tudo o que os Puritanos nos entregaram no decorrer das gerações – estes “novos Reformados” de Hansen falharam em materializar quando a influencia foi mais necessária. Desde 2008, em nossa intensa guerra cultural contra aqueles que querem subverter a América, as igrejas chamadas de “Reformadas” por Hansen não são de qualquer maneira visíveis. Seja qual for o “combustível” que pegaram emprestado dos Puritanos, não foi capaz de produzir os pregadores reformados responsáveis pela Primeira Revolução Americana. Não vemos esses novos reformadores assumindo a liderança em uma Segunda Revolução Americana. Se a Primeira Revolução foi chamada pelo Rei George de “Revolução Presbiteriana”, não há qualquer motivo para Obama, Nancy Pelosi ou qualquer outro aspirante a tirano esquerdista falar da “Insurreição Reformada” ou da “Tea Party Calvinista”. Longe de serem os herdeiros espirituais ou ideológicos dos Puritanos, os pastores mencionados no artigo de Hansen são muito cuidadosos em nunca mencionar nada de relevante nas batalhas culturais de nosso tempo.

Por quê? Por que um movimento tão grande e persuasivo de retorno as nossas raízes Reformadas não consegue produzir uma resposta apropriadamente Reformada? Uma mente Puritana não deveria produzir uma prática Puritana, individualmente e socialmente? Se os antigos Puritanos nos deram a América, os Puritanos modernos não deveriam restaurar a América ao que ela deveria ser? Como conciliar essa contradição?

A resposta é o seguinte: Não há contradição. Hansen está errado. O que ele acredita ser um “retorno ao Calvinismo” não é. O que ele vê como pastores e crentes “Reformados” não são. A definição que Hansen dá de “Reformado” é truncada. O motivo pelo qual não vemos uma resposta Puritana é porque não há influencia teológica Puritana nas igrejas que ele entrevistou. Ele somente vê a superfície. A essência não é Reformada.

Na procura por igrejas “Reformadas”, Hansen usa a TULIP – o acrônimo dos cinco pontos para Calvinismo – como sua régua de medição. Se uma Igreja acredita na TULIP (Total Depravação, Eleição Incondicional, Expiação Limitada, Graça Irresistível, Perseverança dos Santos), se ensina isso, se isso se tornou o ponto central de sua doutrina, então Hansen acredita que é “Reformada”. TULIP é mencionado, direta ou indiretamente, mais de 20 vezes no artigo. É a inspiração de alguns dos convertidos ao Calvinismo que foram entrevistados em seu artigo. Algumas das igrejas “Reformadas” importantes têm cursos e instruções especiais sobre a TULIP. Outros estão nos púlpitos ousadamente pregando sobre. TULIP é o principio e fim do que Hansen define como “Calvinismo”. Ele acredita que se uma igreja é focada na TULIP, é Reformada.

A verdade que Hansen não percebeu é que TULIP não é a essência da teologia Reformada. É claro, as doutrinas da Total Depravação, Eleição Incondicional, Expiação Limitada, Graça Irresistível e Perseverança dos Santos são um passo inicial importante em direção ao imenso corpo de verdades teológicas chamadas de “teologia Reformada”. É um resultado direto do conceito maior da Soberania de Deus. É uma descrição correta do estado caído do homem e da obra de Deus na salvação do indivíduo. Quando olhamos para o alto e agradecemos a Deus pelo que ele fez pessoalmente por nós, pensamos “TULIP”, mesmo que não conhecêssemos ou compreendêssemos o termo.

Em resumo, TULIP é o acrônimo para o “mecanismo” de nossa salvação pessoal. E só isso. Nada além de nossa salvação pessoal. Mas a teologia Reformada inclui imensuravelmente mais que simplesmente nossa salvação pessoal. E quanto uma Igreja faz da TULIP a soma de toda sua teologia, essa Igreja não é Reformada. Sim, ela deu o primeiro passo nessa direção, mas ainda está longe do objetivo.

Os Puritanos que os “novos Reformados” dizem gostar e seguir ficariam profundamente surpresos se alguém colocasse toda a Soberania de Deus na salvação individual das almas. Isso pareceria realmente egoísta para eles – ficaria parecendo que a Soberania de Deus foi feita para servir as necessidades do homem, em fez da salvação do homem servir aos planos de Deus. A salvação de indivíduos nunca ocupou um status tão alto no pensamento dos Puritanos e sim o Reino de Deus e sua justiça. Os Puritanos entendiam que os planos de Deus eram uma prioridade acima da salvação de indivíduos; o Faraó e seu coração endurecido era um tópico de sermão favorito para muitos pregadores Puritanos. Eles não vinham a soberania de Deus somente na salvação, mas também na condenação e em muitas outras coisas. O evangelismo realmente chamava para o arrependimento individual e para andar em justiça, mas eles compreendiam que pregar a salvação era somente o leite (Hb 6.1-2). Havia mais áreas do conhecimento e práticas que são alimentos mais sólidos e que merecem mais atenção.

O artigo de Hansen mencionou aqueles dentre os jovens “novos Reformados” que saíram das “igrejas sensíveis ao público” e se tornaram Reformadas. Mas o que mudou para essas pessoas? Sim, a justificação teológica para a fé mudou, sem dúvidas. Não acreditam mais que conquistam a própria salvação. Mas as prioridades e motivações mudaram? De jeito nenhum. Tanto em um ambiente “sensíveis ao público” quanto “novo Reformado”, o foco é no EU e no MEU, o que Deus fez por MINHA salvação. O principio e o fim é a salvação pessoal e só isso. Em um sentido muito verdadeiro, os “novos Reformados” são simplesmente uma versão teologicamente correta do movimento “sensível ao público”: o egoísmo da busca continua lá, exceto que agora tem uma teologia melhor. Essa ênfase em si mesmo, nas MINHAS necessidades, pareceria uma reinterpretação grosseira da Soberania de Deus para os antigos Puritanos. Dificilmente eles reconheceriam a si mesmos ou suas ideias no movimento “novo Reformado”. Não é o legado deles e a obsessão com batalha espiritual pessoal não fazia parte de suas mentes ou cultura.

Qual foi o legado deixado pelos Reformadores para futuras gerações?

Não foram igrejas cheias de crentes que ansiosamente estudam teologia somente para regozijar-se com sua salvação pessoal. Alias, com duas exceções – Escócia e Hungria – os primeiros Reformadores não nos deixaram igrejas permanentes. Não foram sermões intelectualizados de linguagem psicologicamente elaborada que analisam cada sentimento e emoção que um crente possa ter. Não foram sermões corajosos sobre tópicos irrelevantes, de importância periférica para nossa era e cultura. E, sem dúvidas, não foi uma crença em um Deus que somente é soberano para salvar indivíduos e nada mais.

O legado mais duradouro foi sobre o cultivo de sociedades, cujas culturas se baseavam na aplicação prática da teologia Reformada, de cima a baixo. Genebra, Estrasburgo, Holanda, Inglaterra, Escócia, Hungria, as comunidades huguenotes na França e posteriormente na Carolina do Norte e do Sul, Oranje-Vrystaat e Transval. Sociedades que se tornaram luz para o mundo, uma encarnação da liberdade e justiça de Cristo para todos. Os crentes Reformados de séculos anteriores construíram uma civilização que influenciou o mundo permanentemente. Eles mudaram o mundo, não pelo egoísmo de enfatizar a própria salvação, mas pela obediência em ensinar as nações e construir o Reino de Deus.

Foram cidades edificadas sobre o monte que nos deixou um legado, e o lema “Cidade Sobre o Monte” é o que melhor descreve a teologia Reformada hoje, não TULIP. Sejam Calvinistas ou Arminianos, Cristãos e Não-Cristãos, todo mundo na América hoje – e não somente na América – é uma testemunha do sucesso de construir aquela “Cidade Sobre o Monte”. Os Puritanos de quem Hansen falou não chegaram nesse litoral para encontrar a perfeita teologia TULIP. De fato, eles criam na soberania de Deus sobre a salvação, mas eles criam em muito mais do que isso. Eles sabiam que eram predestinados por Deus para serem os vasos escolhidos para manifestar a Soberania de Deus sobre culturas e sociedades de homens ao construir uma nova civilização. “Os reinos deste mundo vieram a ser o Reino de nosso Deus” tinha um significado muito específico para os Puritanos, e essa visão era o que caracterizava a visão deles de Soberania.

Com uma visão de Cidade Sobre o Monte, os Puritanos estavam muito mais preocupados com questões legais e culturais da sociedade do que com questões psicológicas e filosóficas da existência humana, como é o caso dos “novos Reformados”. Justiça e retidão era a prioridade acima de espiritualização excessiva e experiências místicas. Desenvolveram códigos legais, teorias e praticas econômicas, organização social, educação e ciência. Eles não se preocupavam com os pequenos e irrelevantes detalhes da vida espiritual do Cristão. Eles viam valor em encarnar as verdades de Deus na cultura, não em teologia do interior. A visão que tinham do mundo era de uma unidade, segundo a Lei de Deus, espiritual ou material, igreja, família, estado, mente, matéria, lei e graça. Eles não seriam capazes de compreender o dualismo das igrejas dos “novos Reformados”. “Pacto”, para eles, não era um termo religioso. Era o componente essencial de todas as relações, espirituais ou temporais, e todos os pactos – na esfera civil, no comercio, igreja, família, escola – deveria imitar o pacto supremo entre Deus e a humanidade em Jesus Cristo.

É por isso que quando John Whitherspoon declarou que a liberdade de cultuar e a liberdade econômica e política eram coisas inseparáveis, ele não estava declarando uma nova doutrina. Ele estava proclamando o que aprendeu com seus antepassados espirituais, com Agostinho, Calvino, Mather e Edwards. E quando os discípulos de Whitherspoon se juntaram para se tornar os Pais Fundadores dos Estados Unidos da América, isso foi um ato verdadeiramente Reformado, uma consequência lógica das doutrinas da Reforma.

Aqueles que querem ser Reformados hoje, não podem ficar limitados ao pensamento confortável de que Deus lhes deu a salvação pessoal. Reformado significa a Soberania de Deus sobre tudo – tudo na vida, pensamento e ação do homem, incluindo a sociedade e cultura do homem. Portanto, os “novos Reformados” de Hansen não são Reformados. É somente uma versão teologicamente de uma religião centrada no homem.

Da próxima vez que Cristianismo Hoje quiser encontrar o retorno do Calvinismo, a frase chave não é TULIP. O retorno do Calvinismo será conhecido pelo seguinte: “Cidade Sobre o Monte”, “Visão de Mundo Abrangente”, “Ensinar as Nações”, “Os Direitos Régios de Jesus Cristo Sobre Todas as Áreas da Vida”, “Cristandade”, “Domínio sob o Pacto de Deus”. O artigo deve se chamar: “Os Reformados, Historicamente Otimistas, Voltados para o Domínio”. Qualquer outra coisa será somente uma imitação vazia do legado dos Puritanos, não verdadeiramente Reformado.

 Escrito por: Bojidar Marinov

Tradução: Frank Brito

Fonte: www.americanvision.org via monergismo.com

[Livro] A Aliança da Graça

A Aliança da Graça – William HendriksenRecentemente vem aumentando o interesse sobre a doutrina da Aliança da Graça. Se não fosse assim a editora não me teria solicitado que preparasse uma edição revisada e ampliada de meu livro sobre esse tema, publicado há quase meio século.

Durante estes anos tenho recebido mais e mais pedidos da obra anterior e sugestões para que fosse reeditada. Não faz muito tempo, um pastor jubilado, ao descrever o estado existente entre muitos jovens da sua denominação, e de outras, observou: “O que necessita é um despertar do interesse sobre a Doutrina da Aliança de Graça. Nossa preciosa juventude deve estar consciente do que significa ser “filhos a aliança”!

Para ler este livro, clique no link abaixo:

A Aliança da Graça

Por quem Cristo morreu?

Um dos pontos mais controvertidos da teologia reformada tem a ver com o terceiro item de nossa lista de itens da TULIP. É a expiação limitada. Este tem sido um tal problema de doutrina que há multidões de cristãos que dizem que abraçar a maioria das doutrinas do calvinismo, mas saem do barco bem aqui.

Referem-se a si mesmos como os calvinistas dos “quatro pontos”. O ponto que não podem sustentar é a expiação limitada. Freqüentemente tenho pensado que, para ser um calvinista de quatro pontos, é preciso que a pessoa não entenda pelo menos um dos cinco pontos. É difícil imaginar que a pessoa possa entender os outros quatro pontos do calvinismo e negar a expiação limitada. Existe sempre a possibilidade, contudo, da feliz inconsistência pela qual as pessoas sustentam diferentes pontos de vista ao mesmo tempo.

A doutrina da expiação limitada é tão complexa que, para tratá-la adequadamente, seria preciso um volume completo. Nem mesmo dediquei um capítulo inteiro a ela neste volume, porque um capítulo inteiro não lhe faria justiça. Eu pensei em não mencioná-la de todo, porque existe o perigo de que dizer pouco sobre ela seja pior do que não dizer nada. Mas penso que o leitor merece pelo menos um breve resumo da doutrina e assim procederei – com cuidado porque o assunto requer um tratamento mais profundo do que posso conceder aqui.

A questão da expiação limitada tem a ver com a pergunta: Por quem Cristo morreu? Ele morreu por todos ou somente pelos eleitos?

Todos concordamos que o valor da expiação de Cristo foi suficientemente grande para cobrir os pecados de todos os seres humanos. Também concordamos que sua expiação é verdadeiramente oferecida a todos os seres humanos. Qualquer pessoa que coloca sua confiança na morte expiatória de Jesus Cristo certamente receberá os completos benefícios dessa propiciação. Estamos também confiantes de que, qualquer que responde à oferta universal do Evangelho será salvo.

A questão é: Para quem a expiação foi designada?

Deus mandou Jesus ao mundo meramente para tornar a salvação possível às pessoas? Ou Deus tinha alguma coisa mais definida em mente? (Roger Nicole, o eminente teólogo batista, prefere chamar a expiação limitada de Expiação Definida).

Alguns argumentam que tudo o que expiação limitada significa é que os benefícios da expiação são limitados aos crentes que satisfazem as condições necessárias de fé. Isto é, embora a expiação de Cristo fosse suficiente para cobrir os pecados de todos os homens e para satisfazer a justiça de Deus contra todo pecado, ela efetiva a salvação somente para os crentes. A fórmula diz: Suficiente para todos, eficiente somente para os eleitos.

Esse ponto simplesmente serve para nos distinguir dos universalistas, que crêem que a expiação assegurou salvação para todos. A doutrina da expiação limitada vai além disso. Refere-se à questão mais profunda da intenção do Pai e do Filho na cruz. Declara que a missão e morte de Jesus foi restrita a um número limitado a seu povo, suas ovelhas.

Jesus foi chamado de Jesus porque Ele salvaria seu povo de seus pecados (Mt 1.21). O Bom Pastor dá sua vida pelas ovelhas (Jo 10.15). Essas passagens são encontradas freqüentemente no Novo Testamento.

A missão de Cristo era de salvar os eleitos. E a vontade de quem me enviou é esta: Que nenhum eu perca de todos os que me deu; pelo contrário, eu o ressuscitarei no último dia (Jo 6.39).

Não tivesse havido um número fixo de contemplados por Deus quando Ele designou que Cristo morresse, então os efeitos da morte de Cristo teriam sido incertos. E possível que a missão de Cristo tivesse sido uma tristeza e completo fracasso.

A propiciação de Jesus e sua intercessão são obras conjuntas de seu sumo sacerdócio. Ele explicitamente exclui os não eleitos de sua grande oração sumo sacerdotal: …não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me deste, porque são teus… (Jo 17.9). Cristo morreu por aqueles por quem Ele não orou?

A questão essencial aqui diz respeito à natureza da oferta de Jesus. A oferta de Jesus inclui tanto expiação quanto a propiciação. Expiação envolve a remoção que Cristo faz de nossos pecados para fora (ex) de nós. Propiciação envolve uma satisfação pelo pecado perante ou na presença de (pro) Deus.

O arminianismo tem uma oferta que é limitada em valor. Não cobre o pecado dos incrédulos. Se Jesus morreu por todos os pecados de todos os homens, se Ele expiou todos os nossos pecados e propiciou todos os nossos pecados, então todos seriam salvos. Uma oferta potencial não é uma oferta verdadeira. Jesus realmente fez oferta pelos pecados de suas ovelhas.

O maior problema com a expiação definida ou limitada é encontrado nas passagens que as Escrituras usam referentes à morte de Cristo por todos ou pelo mundo todo. O mundo por quem Cristo morreu não pode significar a família humana inteira. Deve referir-se à universalidade dos eleitos (povo de todas as tribos e nações), ou à inclusão dos gentios em acréscimo ao mundo dos judeus. Foi um judeu que escreveu que Jesus não morreu meramente por nossos pecados, mas pelos pecados do mundo todo. Será que a palavra nossos refere-se aos crentes ou aos judeus crentes?

Precisamos nos lembrar de que um dos pontos cardeais do Novo Testamento refere-se à inclusão dos gentios no plano da salvação de Deus. A salvação era dos judeus, mas não restrita aos judeus. Onde quer que seja dito que Cristo morreu por todos, algum limite precisa ser acrescentado, ou a conclusão teria de ser o universalismo ou a mera expiação potencial.

A expiação de Cristo foi real. Ela efetivava tudo o que Deus e Cristo pretendiam dela. O desígnio de Deus não foi e não pode ser frustrado pela incredulidade humana. O Deus soberano soberanamente enviou seu Filho para propiciar pelo seu povo.

Nossa eleição é em Cristo. Somos salvos por Ele, nele e para Ele. O motivo para nossa salvação não é meramente o amor que Deus tem por nós. É especialmente baseada no amor que o Pai tem pelo Filho. Deus insiste que seu Filho verá o trabalho de sua alma e ficará satisfeito. Nunca houve a menor possibilidade de que Cristo pudesse ter morrido em vão. Se o homem está verdadeiramente morto no pecado e preso ao pecado, uma mera expiação potencial ou condicional não somente pode ter acabado em fracasso, como muito certamente teria acabado em fracasso.

Os arminianos não têm razão verdadeira para crer que Jesus não morreu em vão. São deixados com um Cristo que tentou salvar a todos, mas na realidade não salvou ninguém.

Fonte: Eleitos de Deus – R.C. Sproul – Editora Cultura Cristã 2002